10/01/2021

E se o vento que enfuna as velas do PS for o vento da pandemia?

Baseada na evolução das sondagens, quase toda a comentadoria doméstica vem vaticinando uma repetição da vitória socialista nas próximas eleições, o que parece plausível quando se olha para o tracking das sondagens agregadas no gráfico seguinte. 

Fonte: Marktest

A comentadoria extasia-se com a "resiliência" que o PS parece mostrar face ao desgaste que se esperaria dos impactos da pandemia e do desastre que tem sido o resultado da estratégia e das medidas adoptadas por um governo em estado avançado de decomposição. É precisamente a suposta singularidade desta "resiliência" que vou comentar, sem fazer vaticínios sobre as próximas eleições que dependerão também do que fizerem os outros actores. 

Vejamos o que se passa noutros países, começando pela Alemanha que também apresenta uma aparente singularidade: um aumento de cerca de 10 pp das intenções de voto do CDU, o partido de Merkel que lidera a coligação governante. 

Fonte: FT

Será mesmo uma singularidade a melhoria da intenção de voto no CDU e da taxa de aprovação do seu governo num contexto de pandemia? Não, não é, como se pode ver no gráfico seguinte da variação das taxas de aprovação dos governos nos 6 primeiros meses de pandemia.

Fonte:The political consequences of the Covid pandemic

Sob reserva do período mais curto, observa-se que o padrão geral são melhorias, nalguns casos significativas, de aprovação dos governos (e das intenções de voto dos respectivos partidos). Porquê? Provavelmente, arrisco concluir, porque nestas alturas de crise o eleitorado, qual rebanho, entra em pânico, induzido pelos governos e ampliado pelos mídia que exploram o filão, e vê o pastor (e os cães) com um misto de benevolência e esperança.    
 
A esta luz, o que podemos concluir em relação ao governo socialista, que na altura ainda tinha um aumento da aprovação mas nos meses seguintes se reduziu em paralelo com as intenções de voto?  No contexto da amostra de países é uma singularidade mais pela negativa do que pela positiva. Por isso, talvez possamos antecipar que quando a pandemia estiver controlada, o pânico desvanecido e os custos sociais e económicos de estratégias e medidas erradas for mais visível, o rebanho eleitoral irá cobrar a factura atrasada. No caso português suspeito que essa factura, pelo menos a parte residual que restar da curta memória do povo, vai ser dividida com o senhorio de Belém, mesmo que este no segundo mandato tente sair do comboio em andamento.

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