23/12/2020

Temei as paixões socialistas, sobretudo as da educação

Ricardo Reis, um economista e professor no departamento de economia da London School of Economics, com uma coluna semanal no Expresso, confessou que em 2013 escreveu «claro que a paixão socialista pelo ensino foi um sucesso». Sete anos depois, já devidamente instruído pelos resultados da paixão socialista, faz um balanço realista do desastre e escreve A paixão morreu, de onde respigo o excerto seguinte:

«António Costa chegou ao Governo em 2015. Começou escolhendo Tiago Brandão Rodrigues para ministro. A sua experiência no sector era tão reduzida que os jornais só conseguiam realçar que ele tinha sido voluntário durante uns meses nos Jogos Olímpicos de Londres. Enquanto a maio­ria dos ministros da Educação até então tinha currículos académicos extensos, recheados de publicações, cátedras e reito­rias, Rodrigues era ainda apenas um investigador associado de um laboratório. O spin do PS na altura vendeu a sua carreira como de enorme distinção científica, na calha para um prémio Nobel, quando ele não fazia sequer parte do quadro de professores de um departamento.

A imprensa deu-lhe justamente o benefício da dúvida, tendo em conta a sua juventude. Hoje, cinco anos depois, podemos cobrar. Durante a maior parte do seu mandato, Rodrigues não se deu sequer ao trabalho de nomear administradores para a Parque Escolar. Os edifícios deterioram-se. Depois do que sofreram Marçal Grilo, Oliveira Martins ou David Justino para impor o bem-estar dos alunos ao sindicato nas negociações com a Fenprof, Rodrigues cedeu quase sempre. Os exames no 4º ano foram cancelados e a prioridade mudou da excelência para a inclusividade. Os ganhos continuam ilusórios, mas a perda de excelência já é clara nos números, com uma redução nas notas dos alunos nos testes internacionais. Ainda muitos se lembram, com aprovação ou reprovação, da visão obstinada e da determinação de Lurdes Rodrigues ou Nuno Crato. Ao ministro da Educação Rodrigues, que está há mais tempo continuamente em funções do que qualquer outro no pós-25 de Abril, é difícil apontar uma ideia clara, um objetivo orientador ou uma visão para a educação em Portugal, para além de culpar o Governo anterior sempre que corre algo mal.

No ensino superior, tem sido penoso ver o ministro Manuel Heitor, ao longo dos anos, defender ideias e anunciar medidas com bom senso (algumas melhores e outras piores) para depois realizar muito pouco, porque as verbas ficaram cativadas. Na ciência, a cada ano que passa crescem na comunidade de investigadores as críticas à FCT, em parte pelas suas decisões erráticas e procedimentos atrasados, em parte pela exiguidade de fundos. Onde houve progresso nestes anos, ele partiu quase sempre da iniciativa de uma ou outra universidade.»

Sem comentários:

Enviar um comentário