Outros portugueses no topo do mundo.
O título gongórico é «Já observou a Terra e foi a Marte. Agora a tecnologia portuguesa quer ter um lugar ao sol» e no encomiástico texto escreve o Expresso: «Satélite com tecnologia portuguesa, que vai permitir obter as primeiras imagens dos pólos do Sol, foi lançado com sucesso esta madrugada.».
Dito assim, a coisa é um feito quase ao nível do lançamento à água da nau Madre de Deus, o maior navio do mundo nos finais do século XVI. Mais à frente ficamos a saber que o custo total da missão anda pelos 1,5 mil milhões de euros o que é muita grana, o equivalente à mais recente injecção de capital no Novo Banco, o qual, recorde-se é o banco bom constituído com os salvados do naufrágio do BES - imagine-se o que seja o banco mau.
Chegados aqui, é inevitável um tuga que se preze interrogar-se quanto terá custado a tecnologia portuguesa incorporada no satélite e imaginar dezenas ou centenas de milhões. Lá mais para a frente o Expresso informa-nos que «o projecto representou, para a Critical Software, um volume de negócios de 2,5 milhões de euros, com especial incidência nos anos entre 2013 e 2016.» E pronto, lá se vai o orgulho patriótico, humilhado pelos 0,17% da contribuição lusa para o satélite, uma contribuição digamos homeopática.
Não me entenda mal, no ponto em que as coisas estão qualquer exportação de uma empresa portuguesa sem ser à força de subsídios deve ser valorizada. É apenas uma questão de sentido das proporções e de noção do ridículo que resulta da nossa fasquia estar tão baixa que até levantar um pé à altura do tornozelo é um feito.
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