29/01/2020

Um dia como os outros na vida do estado sucial (41) - Mudar de nome no Portugal dos Pequeninos

Era uma vez um rapaz farto do nome que lhe tinham prantado. Desde pequenote, na escola e em todo o lado, quando o chamavam pelo nome todos se riam.

Quando fez 18 anos tomou uma decisão: vou mudar de nome, disse para si próprio. No dia seguinte dirigiu-se ao registo civil, tirou a senha e aguardou pacientemente na fila que dava a volta ao quarteirão.

- O que é preciso para mudar o nome -  perguntou quando chegou a sua vez ao funcionário que falava distraidamente com o colega do lado sobre a próxima greve.

- Não se pode mudar o nome a não ser por casamento ou por o pai ou a mãe o terem reconhecido depois do registo do nascimento - respondeu com maus modos o funcionário, enquanto tirava cera do ouvido com o dedo mínimo e limpava a unha com um canivete suíço.

- Mas eu tenho um nome horrível. Toda a gente goza comigo - disse atormentado e com lágrimas nos olhos.

- Não pode mudar e se pudesse mudar teria de pagar os emolumentos - esclareceu o funcionário, enquanto extraía um macaco do nariz.

- E quanto seria? - perguntou desconsolado o rapaz.

- Duzentos euros - disse, enquanto perguntava a si próprio quando é que o miúdo se iria embora para ir aos sanitários fumar um charro.

- Pronto, desisto. Já percebi que tenho de ficar com este nome horrível.

- Ah, também pode mudar o nome se mudar de sexo e até li no jornal que vai ser grátis - acrescentou o funcionário, perguntando - afinal qual é mesmo o seu nome?

- João Penetra Murcho - respondeu com um soluço,

- OK, percebo-o. E o novo nome seria João quê? - perguntou, condoído pelo desgosto do rapaz.

-  Não seria João. Seria Pedro. Penetra Murcho é de família.

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