19/01/2020

ESTÓRIA E MORAL: Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades

A estória do Dr. Centeno

Era uma vez um Dr. Centeno que há nove anos, dois meses antes do governo do seu Partido Socialista sem dinheiro para pagar os salários pedir o resgate a Bruxelas, dizia, entre outras coisas que um Dr. Centeno actual condenaria, «temos algumas instituições que protegem demasiado os insiders. Os sindicatos têm o monopólio constitucional da negociação do qual não estão obviamente dispostos a abdicar. E por mais reformas que se façam, numa tentativa de abrir a legislação a outros espaços de negociação dentro das empresas, há sempre essa prerrogativa constitucional

O actual Dr. Centeno entende que «a redução consistente nos juros pagos é um reflexo estrutural daquilo que acontece neste momento em Portugal» (Conferência da Ordem dos Economistas no passado dia 15), atribuindo a si próprio a redução geral das taxas de juros e colocando-se no lugar de uma espécie de Banco Central Universal.

Esqueceu-se de várias coisas, por exemplo, como recordou há dias Camilo Lourenço «no 1.º semestre de 2016 (...) os juros portugueses chegaram a encostar nos 4% enquanto Centeno e Costa defendiam uma política económica baseada nos estímulos orçamentais e no consumo... Só no segundo semestre, quando os mercados e as agências de rating perceberam que o Governo dizia uma coisa e fazia outra (cativações brutais de despesa, mesmo nas barbas de PCP e Bloco de Esquerda), é que as coisas mudaram.

E ao dizer no parlamento durante o debate orçamental que a «saída limpa foi, afinal, uma nódoa» esqueceu-se que foi essa nódoa e as políticas do BCE que permitiram «a redução consistente nos juros pagos» que ele hoje se atribui.

Passemos em revista a obra do Dr. Centeno.

Redução do défice estrutural: consequência da redução dos juros (que se deve ao BCE) e dos dividendos do BdP (uma consequência indirecta da redução dos juros)

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Aumento dos impostos: aqui sem dúvida temos obra do Dr. Centeno.


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O prometido e o cumprido: mais despesa, mais impostos menos investimento público e a grande ajuda do BCE.

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A moral da estória

«Yo soy yo y mi circunstancia, y si no la salvo a ella no me salvo yo»

Ortega y Gasset

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