«Por outras palavras, Portugal transformou-se num Estado de autoritarismo fiscal sem limites. Só quem tenha andado a dormir nos últimos anos se surpreendeu com o que esta reportagem relatou. Nas últimas décadas, os vários partidos que se foram revezando no poder viram-se permanentemente encurralados entre duas necessidades.
Em primeiro lugar, a de usarem o Estado para redistribuírem a maior quantidade de riqueza possível pelas clientelas que deles dependem, e das quais eles próprios dependem ainda mais. Em segundo lugar, a de, para terem com que fazer essa redistribuição, manterem junto dos mercados financeiros o crédito suficiente para endividarem o Estado a preços minimamente comportáveis, e com esse propósito, cumprirem as exigências orçamentais que possibilitem a permanência no euro que dá a Portugal as taxas de juro baixas de que vai beneficiando.
Por terem de alimentar os “boys” e as “girls” que gravitam em torno do poder político, os partidos de governo não podem cortar de forma “excessiva” as despesas do Estado. Por terem de, no mínimo, acalmar os receios europeus quanto à “indisciplina orçamental” portuguesa, têm de garantir que a diferença entre o que uma parte significativa do país espera do Estado e aquilo que o Estado lhes pode oferecer – ou seja, o défice – seja a menor possível. E para o conseguirem, precisam que o Estado opere à margem da razoabilidade e da lei.»
«Sem limites», Bruno Alves no Jornal Económico
Está neste artigo tudo explicado. Só falta concluir que são os que beneficiam do sistema que permite este escândalo os únicos que o podem mudar.
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