Quando os regimes ditatoriais nazi-fascistas caíram com estrondo como corolário da II Guerra Mundial, o nosso salazarismo e o seu Estado Corporativo fingiu adoptar a democracia, fez simulacros de eleições e sobreviveu mais 30 anos.
Quando a URSS e o bloco comunista já ameaçavam ruína e as revoluções estavam desacreditadas, aqui na jangada de pedra o salazarismo colapsava e ensaiava-se o PREC que, segundo a lenda, haveria de parir o socialismo revolucionário dirigido pela vanguarda do proletariado constituída por comunistas de todas as confissões.
Com a implosão do bloco soviético o mundo assistiu a uma onda de liberalização social e económica. Por cá continuámos a cantar loas ao insubstituível papel do Estado como regulador ou, nas versões mais encalhadas, mesmo como «empreendedor», por muito que o termo não casasse bem com o papel do Estado, a não ser na colheita de impostos.
Passámos incólumes pela falência do comunismo na Europa (o único partido que sobrevive é o do camarada Jerónimo), pelo esvaziar do esquerdismo radical (reduzido hoje, na Europa, aos Verdes) e pela erosão da esquerda socialista (praticamente todos os partidos socialistas estão ausentes dos governos europeus), e cometemos a proeza de ter um governo de socialistas que perderam as eleições, apoiado por comunistas e esquerdistas, a que sucedeu um outro que é mais de quase o mesmo.
E assim andámos, até que a globalização gerada pela onda liberalizante começou a morrer na praia, não sem antes ter retirado da miséria e da pobreza extremas uma fracção importante da humanidade, e as tendências anti-liberais voltaram a emergir sob diversas formas. É então, pela primeira vez em 45 anos de democracia, que surge uma força política reclamando-se abertamente de liberal e consegue um lugar no parlamento.
Decididamente, andamos de candeias às avessas.
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