04/08/2019

A greve dos motoristas de mercadorias perigosas explicada às criancinhas

Créditos: TRADEREADY
«Voltando ao mercado de trabalho, imagine o dilema dos motoristas. A maioria dos adultos sabe conduzir um carro. Se precisar de uns euros a mais, qualquer um está disposto a conduzir durante umas horas por dia. O mercado natural dos condutores tende para a concorrência. Conduzir uma carrinha não é, no entanto, o mesmo que conduzir um camião. Um veículo pesado transporta de forma mais eficiente e segura as mercadorias. Tirar a carta de pesados é custoso e difícil, mas é a forma de um motorista se diferenciar no serviço que oferece às empresas e ganhar um pouco mais. 

O passo seguinte é tornar- se motorista de matérias perigosas. Transportar cerveja ou gasolina não é exatamente a mesma coisa (mas quase). Aprendendo a transportar gasolina, os motoristas podem receber mais. Só que a tentação de ir mais longe está lá. Basta algum sentido de estratégia para se aproveitar dos temores da opinião pública e da fraqueza dos políticos. Bastou agitar o medo de um acidente grave para convencer os legisladores em 2007 que para conduzir mercadorias perigosas deve ser obrigatório ter uma certificação especial. Não basta saber fazê-lo mas é preciso tirar um curso, fazer parte de uma associação, e renovar a licença de 5 em 5 anos. Assim, garante-se que só 800 pessoas no país o podem fazer. Tornam-se monopolistas, e impõem preços mais altos pelos seus serviços. Ganham poder de mercado através da lei, pois se eles não conduzem os camiões, mais ninguém pode fazê-lo.»

Excerto de «Condutores poderosos», Ricardo Reis no Expresso

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