«A geringonça fez-se para manter e reforçar o poder dos seus parceiros no Estado, e do Estado na sociedade, e, por isso, para impedir quaisquer “reformas estruturais” que pusessem em causa esse poder.
É o que os parceiros da maioria têm feito e que têm razão para continuar a fazer. Sobretudo se finalmente ganharem umas eleições, como não ganharam em 2015, e a sua maioria for graduada em “maioria de revisão constitucional” (isto é, dois terços da Assembleia da República). Talvez não restaurem o Conselho da Revolução, mas a dimensão de uma vitória dessas será, só por si, pressão suficiente para irem mais longe, quer na colonização do Estado pelos seus agentes e ideologias, quer na colonização da sociedade pelo Estado. É por exemplo possível que uma geringonça reforçada aproveite eventuais substituições de juízes no Tribunal Constitucional para, como Trump está a fazer nos EUA, garantir que, perdida um dia a maioria parlamentar, continuará a dispor de uma maioria togada para bloquear reformas. Teremos então geringonça por muitos mais anos.»
Excerto de «Mais quatro anos de geringonça?», Rui Ramos no Observador
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