A família socialista tem imenso jeito para o negócio
Quem sai aos seus não degenera, diz o ditado popular, e exemplifica o jovem Pedro Costa, filho do pai Costa, primeiro-ministro, que na qualidade de membro de junta de freguesia contratou três amigos como assessores para verificarem «no terreno a limpeza das ruas». Um deles, licenciado em Cultura e Comunicação, ganhou 15 mil euros num ano o que não está mal para contar os cocós de cães em Campo de Ourique, ainda que uma licenciatura em matemática fosse mais adequada.
As dívidas não são para se pagar, foi isto que ele aprendeu
Tudo o que sobe, desce, costuma dizer-se. E é frequentemente assim, sobretudo nas bolsas. Porém, o aforismo não parece aplicável à pantagruélica dívida pública portuguesa. Depois de cinco meses a crescer, atingiu em Abril um novo máximo de 252,5 mil milhões de euros, qualquer coisa como duas vezes e meia a dívida pública do início de 2005, quando José Sócrates iniciou a sua missão de levar o país à bancarrota.
O Estado sucial é um caloteiro
Boa nova
Prosseguindo incansavelmente a produção de boas notícias, o governo anunciou o aumento do abono de família dos filhos entre os 12 meses e os 3 anos, umas dezenas de euros por mês que abrange 140 mil casos.
A boa nova chega até às prisões com o anúncio de 120 milhões de euros para construir no Montijo e em Ponta Delgada duas novas cadeias «grades nem celas» a que o semanário de reverência dedica uma página inteira ilustrada com fotografias que farão inveja a quem ande a procura de uma casa para alugar. Suspeito que esta boa nova tenha como destinatários os membros da grande família socialista em risco de serem presos por corrupção activa ou passiva.
Não desprezando nenhum segmento da freguesia eleitoral, o governo aprova estratégia que prevê atingir 10 mil quilómetros de ciclovia até 2030 com um «investimento» de 300 milhões de euros nos próximos 10 anos. É mais ou menos por esta altura que o governo de Costa deveria cumprir o limite de 60% do PIB para a dívida pública.
E não se trata apenas da produção de boas notícias ex novo. O talento de Costa consegue transformar más notícias, isto é factos, em boas notícias, isto é provavelmente fake news ou pelo menos notórios exageros. Se o agendamento para renovar o cartão de cidadão pode demorar até 150 dias, nada como anunciar um novo Simplex ou iSimplex (será o «i» de imaginário?) com 119-medidas-119 que incluem a renovação através dos terminais MB do cartão de cidadão, da carta de condução, etc. a partir do... 2.º e 3.º trimestre de 2020.
Já virámos a página da austeridade
Entre Janeiro de 2015 e Março deste ano duplicou o número de cirurgias em atraso atingindo 45 mil, o equivalente a 18,5% dos doentes no Sistema Integrado de Gestão de Inscritos para Cirurgia (SIGIC). A coisa até parece obra de infiltrados para destruir o tão amado SNS (não se admirem se o agitprop da geringonça vier a apropriar-se desta minha boutade).
Uma notícia que também poderia ser classificada como boa nova e só não o foi porque em contraste, por exemplo, com os 300 milhões para ciclovia, os 45 milhões para contratar mecânicos e comprar peças para substituir as que caem dos comboios em decomposição da CP, anunciados pelo respectivo ministro e líder da tendência pedronunista, são uma verba ridícula que vem garantir que em matéria de transporte ferroviário no melhor cenário tudo continuará na mesma.
O resultado da viragem da página é «Um Estado em (quase) estado de coma», para citar Helena Garrido: «Enquanto se diz que acabou a austeridade, revertendo os cortes salariais na função pública e os aumentos mais visíveis de impostos, como a sobre-taxa de IRS, corta-se violentamente nas despesas de funcionamento e no investimento de reposição de equipamentos. Restringe-se violentamente as contratações, ao mesmo tempo que se anuncia a integração de todos quantos estão no Estado a recibos verdes e se reduz o horário semanal de trabalho. Limita-se violentamente a margem de manobra dos dirigentes do Estado, incluindo as empresas públicas, ao mesmo tempo que se exigem resultados. Adiam-se investimentos de reposição de equipamentos, como é bastante visível no caso dos transportes, ao mesmo tempo que se fazem descontos muito significativos no preço dos passes que são impossíveis de suportar pelo Estado, como o tempo o demonstrará.»
Paz social
Se compararmos as greves no SNS até Maio nos anos eleitorais de 2005 e 2009, teremos de concluir que os utentes da vaca marsupial pública que constituem a freguesia eleitoral da geringonça não são pobres mas são muito mal agradecidos. Segundo números do Público, nesse período os dias de greve foram de 38 mil em 2005 e 72 mil dias em 2019. Na semana passada tivemos mais do mesmo: médicos e enfermeiros paralisaram de 3.ª a 6.ª feira.
Hoje há conquilhas, amanhã não sabemos
Como venho regularmente lembrando, para crescer precisamos de aumentar a produtividade, para isso teremos de investir e para investir precisamos de poupar e/ou de nos endividarmos mais. Se quanto à segunda alternativa estamos a fazer tudo para atingimos novos recorde da dívida pública, da dívida total da economia e da dívida externa líquida, quanto à poupança também estamos a atingir novos recordes com uma taxa de poupança de 4,5% do rendimento disponível, taxa que é um terço da Zona Europeu - o que até levou uma pobre jornalista a meter os pés pelas mãos e confundir «um terço» com «menos um terço».
Como também venho referindo, o que ajuda a adiar a chegada do mafarrico, prematuramente anunciado por Passos Coelho, tem sido o turismo. Ainda assim, é prudente não deitar foguetes porque o afluxo de estrangeiros a Portugal, que contribuírem com quase 17 mil milhões de euros em receitas, está a aumentar a um ritmo que é metade do turismo mundial (3% contra 5,8%).
Para fechar a crónica de hoje com as conquilhas do amanhã, dois factos que põem em dúvida se o estado de espírito eufórico dos portugueses será mais do que fruto do imaginário alimentado em mentes fracas pelo par analgésico Senhor Feliz e Senhor Contente.
O estado da banca, apesar de ter melhorado à custa de muito dinheiro injectado (em grande parte pelos contribuintes), deveria inspirar cuidados e não euforias: em comparação com as médias europeias o rácio NPL continua quase o triplo e a proporção de activos representados por títulos da dívida pública ou privada é o dobro, indiciando uma exposição excessiva, sobretudo à dívida pública.
O segundo facto é o rendimento disponível das famílias portuguesas que em 2017 ainda estava abaixo de 2008. De onde, a euforia materializada no aumento do consumo foi sustentada pelo crédito, outra vez.
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