«E quem diz o Francisco diz o PAN em geral, cujas crenças, no sentido religioso do termo, não mereceriam comentário se assumidamente se limitassem aos membros e simpatizantes da seita. Sucede que não limitam. O PAN é livre de abominar os transgénicos e os respectivos benefícios. O PAN é livre de presumir que as “medicinas alternativas” são uma coisa autêntica e não uma impostura do gabarito da tarologia. O PAN é livre de preferir curar a enxaqueca com camomila no lugar de Zomig. O PAN é livre de trocar proteínas animais por alcachofras e tofu. O PAN é livre de não apreciar sacos de plástico e carregar as compras na cabeça. O PAN é livre de sentir cócegas com os combustíveis fósseis. O PAN é livre de acreditar nos méritos, e na viabilidade, de providenciar um salário aos que recusam trabalhar. O PAN é livre de ponderar a saída do euro. O PAN é livre de sonhar com o indicador da Felicidade Interna Bruta. O PAN é livre de, sob o verniz “urbano” e fofinho, ser bruto como as casas.
A chatice, e o perigo, é que o PAN não se satisfaz em passear ignorância sem um remoto vínculo à realidade. O PAN, que é para a ciência (e para a economia) o que o BE é para a economia (e para a ciência) quer, e aos poucos tem ajudado a conseguir, que a ignorância, a crendice e a superstição cheguem à lei. O PAN devia ser livre de tudo, não devia ser livre de interferir na liberdade alheia através de alucinações. A última palavra ao Francisco: “O nosso caderno de encargos é muito exigente”. De facto, exige uma imensa propensão para o atraso de vida.»
A natureza do PAN, Alberto Gonçalves no Observador
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