29/04/2019

Crónica da avaria que a geringonça está a infligir ao País (185)

Outras avarias da geringonça e do país.

Começam a ser visíveis para o exterior os sinais de decomposição da geringonça como mostra o episódio das PPP da Saúde, que a ministra da Saúde aceitou, com o aval de Costa, fossem proibidas no futuro no documento em discussão com o BE para revisão da Lei de Bases da Saúde. Proibição que Costa, pressionado, resolveu deixar cair, desculpando-se ser um documento de trabalho, para poucos dias depois ser desmentido publicamente pelo BE que mandou para as redacções dos jornais a proposta do governo que continha essa proibição. Pressionado por fora e muito por dentro, essa é a novidade, por dirigentes socialistas como Carlos César que se demarcaram desse passo colectivista - «isto não é a União Soviética» disse um anónimo do grupo parlamentar do PS. Passo colectivista que ainda não se percebeu se era apenas fruto da necessidade de manter a cama quente para os berloquistas ou também reflexo da costela soviética de Costa.

Uma palavra para a ministra da Saúde, um óbvio erro de casting, dirão os distraídos, De todo, pelo contrário. Escreveu João Vieira Pereira no Expresso, «é a pessoa certa na altura certa. Uma ministra fraca, numa pasta que ser quer fraca pois toda a política de Saúde, além de ser feita na sede do Bloco de Esquerda, está condicionada pela insistente recusa de Mário Centeno em passar cheques».

Se o episódio das PPP da Saúde deixou patente as desavenças na geringonça e na família socialista (família que passou a ser extensiva aos cemitérios), o episódio das progressões dos professores confirmou que o clima no governo está a ficar parecido com um saco de gatos com o Ronaldo das Finanças e o ministro da Educação engalfinhados. Essa é uma guerra que a Fenprof está à beira de ganhar com a ameaça de greves na altura dos exames que, a acontecerem, comprometeriam as férias dos paizinhos na Quarteira ou em Pernambuco, conforme as posses, e comprometeriam ainda mais os votos do PS.

Em todo o caso, não nos iludamos com as desavenças, nem com as primeiras nem com as segundas - o medo de perder o poder é uma poderosa força centrípeta. Como se confirmou com o voto do BE e do PCP chumbando a resolução do PSD sobre o Programa de Estabilidade, voto que deixou claro, apesar do sacudir água do capote, o comprometimento de bloquistas e comunistas com o programa.

Se a caixa de Pandora da «reposição de direitos» ainda não foi fechada, já outras se abrem. Na esteira dos motoristas de combustíveis, os motoristas de carga geral ameaçam greve que «irá parar o país» e, dentro da freguesia da geringonça, os trabalhadores dos registos fizeram uma greve a semana passada.

Tratemos agora, brevemente, da produção de boas novas que, sendo praticadas em doses suportáveis ou, mais frequentemente insuportáveis, por todos os políticos, constituem uma especialidade costista. São miudezas como o cartão do cidadão em cinco minutos (depois de esperar meses, é claro) ou a descida do IVA de 23% para 6% da electricidade e do gás para os consumos mais baixos, ou ainda algo mais substancial e mais sofisticado - para parolos, bem entendido - que é ter calculado as taxas de retenção de IRS para 2018 por cima, para agora, a meses das eleições, fazer reembolsos de três mil milhões, 30% superiores em média aos do ano passado. Ou ainda as obras anunciadas para 2020 and beyond, aumentando os concursos e descendo as adjudicações, o que para os parolos é a mesma coisa.

A demonstração de que Fernando Medina é um verdadeiro clone de Costa, além de sucessor in waiting e por isso mesmo, é o método de encher páginas de jornais com anúncios de obras cujos concursos ficam desertos pelos valores deliberadamente irrealistas para voltarem a enchê-las mais tarde com novos concursos - um exemplo paradigmático é o Plano de Drenagem de Lisboa cujo segundo concurso voltou agora a ser anunciado depois de ter falhado o primeiro.

Por debaixo dos anúncios e fora do mundo paralelo construído pelo aparelho socialista, a realidade continua a desmentir os presentes que sorriem e os amanhãs que cantarão. Num país que não tem poupança e cuja capacidade de financiamento da economia voltou a baixar, que necessita desesperadamente de investimento, o ano passado o saldo entre entradas e saída do investimento directo estrangeiro foi negativo de cerca de mil milhões de euros.

É certo que, se as sondagens reflectem um estado de espírito do eleitorado, o mundo paralelo construído por Costa com a ajuda das câmaras de eco parqueadas nas redacções começa a apresentar fracturas. Nas intenções de voto para as europeias (que não devem confundir-se com as intenções de voto para as legislativas e ainda menos com o voto efectivo nas legislativas), PS e PSD continuam a convergir, como mostram as sondagens da Aximage e da Pitagórica.

Se o crescimento da economia depende dos empresários deveria perguntar-se-lhes o que pensam dos orçamentos socialistas. É o que tem feito a Deloitte há meia dúzia de anos. Veja-se o resultado no diagrama publicado pelo Expresso.


Como sempre, a dívida é a dimensão onde os socialistas são imbatíveis, Afinal o único problema do socialismo é quando acaba o dinheiro dos outros, como reconheceu Margaret Thatcher. E um dia este acabará, apesar dos esforços para aumentar a carga fiscal com o agravamento do IMI a partir de Janeiro de 2020 resultante do valor patrimonial tributário das casas passar a ser 85% do preço médio de mercado na zona.

Entretanto, o endividamento da economia portuguesa subiu de novo em Fevereiro para 723 mil milhões de euros ou 3,6 vezes o PIB, o rácio de dívida pública é terceiro mais alto da UE (enquanto o crescimento é um dos quatro mais baixos), os cinco maiores bancos portugueses detêm 22,6 milhões dessa dívida (o que garante se afundarão com o Estado) e e as famílias portuguesas estão cada vez mais endividadas.

A ajudar à festa, e muito em consequência do consumo empurrado pelo endividamento, nos dois primeiros meses do ano o saldo acumulado das balanças corrente e de capital registou um défice de 1.181 milhões de euros, um aumento de 137% em relação ao ano passado.

Para fechar em apogeu esta crónica, recordo as 3.282 nomeações do governo de Costa em três anos e meio, à razão de 1,9 por dia, que bateu os recorde de Passos Coelho (1,45) e até de Sócrates (1,48).

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