04/02/2019

Crónica da avaria que a geringonça está a infligir ao País (173)

Outras avarias da geringonça e do país.

Se tivesse de fazer a escolha difícil do melhor título entre os muitos que a boa imprensa oferece ao governo de Costa, a semana passada teria escolhido «Governo abriu 53 mercados fora da UE e exporta cerca de 200 produtos». Parece uma das piadas que fazemos aqui nesta crónica, como por exemplo: a economia cresceu pelas milagrosas acções do governo que mandou turistas para cá e produziu bens e serviços que exportou para lá; agora, a economia arrefece por causa da conjuntura internacional.

Que a Caixa continua a ser uma das putains de la République ficou uma vez mais confirmadíssimo com os episódios à volta da auditoria da EY cujo relatório a administração dessa putain pediu para expurgar de «informação ao abrigo do sigilo bancário». Isto num país com um governo que obriga os bancos a comunicar ao fisco todas as contas de valor superior a 50 mil euros, que nomeou presidente da Caixa um vice-presidente de Santos Ferreira, em cujo mandato a putain emprestou a fundo perdido aos empresários do regime com vários propósitos, incluindo o de comprar acções do BCP para onde transitou Santos Ferreira acolitado por Armando Vara. Uma Caixa cuja administração nomeou para auditar os actos das anteriores administrações (a que pertenceu o actual presidente) a sociedade de advogados Vieira de Almeida que, por feliz coincidência, teve como clientes vários dos beneficiários da prodigalidade da putain, incluindo Manuel Fino, um dos implicados no assalto ao BCP com dinheiro emprestado pela mesma putain. [O caso do empréstimo de 231 mil euros a taxa zero por um prazo que ultrapassa a esperança de vida da filha de Vara é um episódio digno do tipo Lava Jato]

É claro que a Caixa não é o único banco onde governos sepultaram o dinheiro dos sujeitos passivos. Tudo por junto, segundo a estimativa do presidente do Tribunal de Contas, entre 2008 e 2017 foram 16,7 milhões de euro. Somando-se os números de 2018 atinge-se 18 mil milhões and counting porque a factura ainda não está fechada e pode chegar a mais 5,5 mil milhões.

Não deveria, por isso, surpreender ninguém que Portugal tenha caído uma posição no ranking do índice da percepção de corrupção da Transparência Internacional que considera que não se têm feito progressos.

Seria para rir se neste país houvesse um módico de sentido do ridículo. Depois de três anos e de inúmeras sessões de propaganda à volta dos migrantes, a quem chamam refugiados, apenas três "refugiados" reagruparam as suas famílias em Portugal.

Ainda para rir temos outros episódios da semana. O do ministro do Ensino Superior que, após alguns depois de ter defendido o fim das propinas, diz agora que isso seria «altamente populista». Outro episódio protagonizado pelo ministro da Transição Energética que anunciou a desvalorização em quatro anos dos veículos a diesel o que, para além de ser objectivamente uma tentativa de manipular o mercado em proveito próprio (para incentivar os veículos eléctricos promovidos pelo seu ministerio), mostrou uma ignorância técnica só igualada pela do seu secretário de Estado, o comissário político Galamba.

Um outro episódio que poderia ter sido para chorar foi o comboio que perdeu o motor em andamento. As fraudes dos bombeiros nas refeições durante os combates aos incêndios florestais só não fazem rir porque são uma tristeza - é a corrupção dos pobres de uns miseráveis eurecos, em contraponto à corrupção dos ricos nos milhões da Caixa, duas facetas da decomposição do Estado Sucial.

Apesar dos esforços da geringonça, que ganhou uma porta-voz na ministra da Saúde para detractar os hospitais privados e gestão privada dos hospitais públicos, segundo um inquérito da DECO «a maioria dos utentes dos hospitais não tem queixas sobre a hospitalização em estabelecimentos do sector privado. As piores classificações são atribuídas a unidades do Serviço Nacional de Saúde (SNS), entre as quais está apenas um hospital gerido através de uma parceria público-privada».

É claro que a ineficiência da gestão pública não é um argumento para quem vê no Estado a coutada da sua freguesia eleitoral, como é o caso da geringonça e do PS em particular que, com o fim do mandato à vista e a incerteza quanto ao futuro, intensificou a nomeação de boys para cargos públicos. Não é por isso surpreendente que a nacionalização dos CTT e a participação no capital da REN estejam na ordem do dia.

Em matéria de greves continuamos em bom ritmo. São os magistrados do Ministério Público que ameaçam aumentar as já anunciadas, são os sindicatos da Função Pública que anunciam mais dois dias, são os polícias que ameaçam uma manif com fardas. Também estão anunciadas greves e manifestações no comércio e serviços mas, como de costume, no final só fazem greve nesses sectores uns quantos profissionais da greve.

Não é novidade nenhuma para os atentos que os orçamentos do governo de Costa são uma coisa para encher o olho e aplacar as reclamações do PCP e do BE (estes últimos sempre desejosos de um secretariazinha de Estado até ficam felizes com pouco) e a execução orçamental é outra diferente.

Fonte: Expresso
Vejam-se no diagrama acima as diferenças entre orçamento e execução orçamental no ano passado e
repare-se que a única rubrica que escapou aos cortes do Ronaldo das Finanças foram as Despesas com pessoal para manter feliz a clientela eleitoral da geringonça.

Depois de meses a anunciar reduções da dívida para fazer títulos na imprensa (por exemplo «Dívida pública tem maior queda desde 2015 após pagamento ao FMI»), a dívida pública atinge no final do ano quase 245 mil milhões, 2 mil milhões acima de 2017, apesar da última tentativa de brilharete em Dezembro com o reembolso de 4,7 mil milhões ao FMI.

Fonte: Eco
E o mais revelador é que a dívida líquida de depósitos aumentou 5,3 mil milhões ou seja mais do dobro do aumento da dívida líquida. Guess why.

A adicionar aos múltiplos sinais de fim de festa, como a recessão em Itália e o crescimento da Zona Euro mais fraco nos últimos 5 anos, a taxa de desemprego começou a subir em Novembro. Até o Ronaldo das Finanças que perante um dos crescimentos mais baixos da UE gastou três anos anunciar os maiores crescimentos da década e do século, vem agora explicar-nos que «ninguém descobriu o elixir do crescimento eterno». O que (ainda) não dá sinais de esmorecer é o consumo de bens duradouros: as vendas de veículos cresceram 9,4% em Janeiro em relação ao mesmo mês do ano passado.

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