07/11/2018

DIÁRIO DE BORDO: Senhor, concedei-nos a graça de não termos outros cinco anos de TV Marcelo (66) - Será Tancos o virar de página?

Outras preces

Já aqui me tinha perguntado porque está calado Marcelo, logo ele que nunca se cala e até responde a perguntas que ninguém lhe faz? Ora porque haveria de ser? Ficou com o rabo entalado em Tancos? É isso que insinua o nosso Maquiavel do Rato, que, como se vê, chega e sobeja para o maquiavelismo tagarela de Belém e não papa a vichyssoise, nem espera que Cristo desça à terra.

O silêncio numa criatura que produz torrentes de palavras significa imenso e, para que não restassem dúvidas, quando o quebrou acabou a confirmar o que o silêncio sugeriu, produzindo uma nota, em vez dos comentários do costume, onde garantiu que «nunca recebeu o director da PJM» e «não teve qualquer reunião bilateral». Nota que me pareceu equivalente àquelas garantias de Bill Clinton «fumei mas não inalei» e «nunca tive sexo com essa mulher» (nessa altura na doutrina jurídica americana o sexo implicava penetração e não incluía o felácio).

Aparentemente este episódio está a ser uma viragem de página no estatuto de intocável de Marcelo. Não por acaso, esta viragem de página tem também a mãozinha do especialista em viragens de páginas - António Costa, ele próprio, que diz estranhar que Marcelo «não se tem cansado de expressar publicamente a sua ansiedade» e coloca-se à disposição da comissão de inquérito, passando por cima do conselho do candidato a seu ministro adjunto Rui Rio.

Alguns sinais impensáveis até recentemente:
  • Rui Rio faz de Maquiavel de província e diz «até ver, eu não coloco isso no patamar do Presidente da República»; «até ver» é o grau possível de sofisticação maquiavélica do homem que tem a ambição de ser ajudante do Maquiavel do Rato;
  • O jornalista Martim Silva do semanário de reverência insinua que o episódio da recandidatura em função da Web Summit foi apenas uma manobra para desviar as atenções e lamenta ter ressuscitado «o Marcelo criador de factos políticos que de tanto fazer cenários por vezes parecer dar nós em si próprio»;
  • O jornalista Vítor Rainho regista que «não deixa de ser estranho ver o Presidente da República a desmentir a toda a hora que tenha tido algum encontro com o ex-diretor da PJM  [quando] as imagens televisivas são muito claras»;
  • O comentador João Lemos Esteves, que se confessa amigo de Marcelo, chama-lhe «co-primeiro-ministro», «guardião da geringonça», «absolvendo-se a ele próprio», «sabe mais do que diz que sabe», e classifica a declaração de Marcelo durante a parada proferida como «completamente estapafúrdia – e imprópria de um verdadeiro comandante supremo das forças armadas».
Se isto não é um virar de página (verdadeiro, ao contrário do fim da austeridade de Costa), parece.

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