As últimas semanas foram pródigas em espectáculos. Com a preciosa ajuda de Marcelo, que nos serviu outra vichyssoise, assistimos a semana passada ao desenlace da peça de teatro da recondução/nomeação da PGR, cuja acção mais importante se desenrolou nos bastidores ao abrigo dos olhares do público. Peça iniciada há longos meses com uma deixa («mandato longo e único») de uma personagem entrada em palco pela esquerda baixa, que foi repetida como um mantra por todos os protagonistas, incluindo Marcelo se desdisse ainda mais do que o habitual.
Se o primeiro foi uma farsa, o outro espectáculo foi a comédia da «suspensão da decisão» de mudar o Infarmed para o Porto, cinco vezes garantida por Costa, decisão que já se sabia e agora se confirmou ter sido apenas mais um coelho tirado da cartola por Costa para entreter o prefeito do Porto.
A quem pense que a capacidade do governo de Costa para montar espectáculos se esgota nesses sucessos, recomenda-se que veja o êxito ininterrupto há mais de um ano no palco de Tancos, animado por um ministro que desafia qualquer comediante em exercício, com novos desenvolvimentos todas as semanas. No último desenvolvimento, imaginativamente baptizado «Operação Húbris» (soberba) pela Judite, os polícias e confundiram-se com os ladrões.
As capacidades de produção de espectáculos do governo de Costa só são ultrapassadas pelo contorcionismo do seu chefe que já lhe valeu o apodo de Homem-Elástico. Para desmobilizar as manifs dos taxistas que tentam manter os privilégios de mercado, Costa não hesitou em mandar o grupo parlamentar chutar para as câmaras municipais a definição de quotas das plataformas como a Uber, matando com um só tiro dois coelhos - o coelho da imagem moderna mantendo na aparência a lei que regulamenta essas plataformas e o coelho das corporações que lhe faz falta para garantir mais uns votos.
Confirmando a justeza da conclusão do tele-evangelista Louçã, citado na crónica anterior, do PS ser o único partido em que a elite e as corporações habituadas aos carinho do Estado confiam para as servir, emergiram indícios das declarações de Augusto Baganha no parlamento que mais uma corporação - o Benfica - conta com carinho do governo de Costa para lhe limpar a folha das golpadas.
Limpar a folha ou condecorar, como Fernando Pinto, ex-presidente da TAP, arguido por gestão danosa no caso da VEM, cuja compra pela TAP, que lá torrou centenas de milhões de euros, envolveu Lacerda Machado, o omnipresente amigo do peito de Costa, o que não impediu o calimero ministro da Economia de oferecer a Pinto a medalha de mérito turístico.
A demonstrar que a remoção da PGR Marques Vidal era uma incontornável necessidade, surgiram ainda mais uns casos da ministra do Mar, por acaso cônjuge de outro ministro também amigo do peito de Costa. A empresa da ministra teve dois ajustes directos com uma câmara e a ministra nomeou em 2016 presidente dos portos de Lisboa, Setúbal e Sines em 2016 a sua sócia nessa empresa. Deve ser isto a que chamam família socialista.
Há dois anos e meio, na sequência do escândalo das prendas a membros do governo (viagens pagas para assistir ao Euro 2016, etc.), uma comissão eventual de transparência (opacidade seria a palavra adequada) anda a tratar de um novo regime sancionatório dos políticos e dos detentores de cargos públicos, o que consiste na aplicação do velho princípio «se não queres resolver um problema cria uma comissão».
Poderá parecer uma anedota mas não é. Comprovando a existência no aparelho de estado da maldição da tabuada que o (Im)pertinências há muito identificou, segundo uma auditoria da Inspecção-Geral de Finanças o ministério superiormente orientado pelo Ronaldo das Finanças não faz ideia de quantos funcionários públicos existem nem quanto ganham. Pode não se saber quantos são, mas sabe-se seguramente quais são os que interessa nomear, como reconheceu um antigo ministro da Saúde quando em entrevista ao DN disse que «um terço dos gestores hospitalares são escolhidos politicamente».
No meio de tudo isto, não passa de um caso menor a recusa do PS na assembleia municipal de Lisboa da audição do vereador de Manuel Salgado, o primo do DDT, em ligação com as acusações que lhe foram feitas por um ex-vereador.
No meio de tudo isto, não passa de um caso menor a recusa do PS na assembleia municipal de Lisboa da audição do vereador de Manuel Salgado, o primo do DDT, em ligação com as acusações que lhe foram feitas por um ex-vereador.
Está em marcha a maior operação de compra de votos de sempre, parte em dinheiro dos contribuintes e dos credores e outra parte em promessas. Trata-se do cozinhado do OE 2019 e, começando pelas promessas, a mais gorda é a subida de 40% do investimento público. No campo da despesa efectiva temos o aumento de quase 3% dos funcionários públicos, um acordo para a contagem do tempo de serviço dos professores, um aumento para encher o olho de 10€ das pensões mais baixas. Ah, e também teremos um aumento do salário mínimo que não pesa no OE mas pesa no orçamento da miríade de micro e pequenas empresas. Isto na parte visível.
É claro que tudo isto tem um preço que já valeu até Agosto um aumento dos impostos para 28 mil milhões (mais 5,2% em relação ao mesmo período do ano passado).
Na parte invisível teremos as operações em que a engenharia orçamental socialista é exímia. Exemplo provável: generosas tabelas de retenção que deslocarão parte do pagamento de IRS de 2019 para depois das eleições.
Não sendo certa, apesar dessas operações, a maioria nas eleições de 2019, o PS pela boca de Carlos César tenta manter a cama quente para os parceiros da geringonça acenando-lhe com a «entrada para o governo».
Com todas estas prioridades, a redução da pantagruélica dívida pública permanece no fim da lista. Aliás, em valor absoluto, a dívida directa do Estado continua a aumentar atingindo em Agosto 245,8 mil milhões, mais 0,1% do que no mesmo mês do ano passado. Entretanto, com a taxa de desemprego a estabilizar, o crescimento reduzir-se-à, a não ser que a produtividade aumente o que, como reiteradamente temos dito, exigiria um aumento do stock de capital só possível com um aumento robusto do investimento que está longe de se verificar.
O seguro de vida da geringonça, constituído por mais de metade das exportações que resultam do turismo e dos veículos (grande parte da Autoeuropa) que explicam grande parte da bonança de que Costa desfruta, depende de continuarem a soprar os ventos favoráveis da conjuntura internacional. A nau catrineta da geringonça poderá até resistir aos excessos orçamentais em 2019 para a compra de votos, mas uma inevitável recessão, mesmo que não atinja a gravidade da crise de 2008, apanhará o país numa situação mais vulnerável do que nessa altura.
Hoje à noite, no noticiário, uma vez mais o "ministro" Mário Nogueira falava daquilo que supostamente lhe foi prometido e não cumprido. E dei por mim a pensar: "O Costa está convencido que endromina toda a gente, mas deu com um pulha maior que ele..." Entretanto mais quatro dias de greve, numa semana com feriado à sexta: isto dá 9-dias-9 de mandrionice! E o ano lectivo mal começou.
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