E passemos a um episódio de há 153 anos recordado por Pedro Sousa Carvalho no Jornal Eco:
«A discussão a que estamos a assistir sobre o financiamento da Cultura e do Teatro faz lembrar uma outra, tida em 1866, e contada por Camilo Castelo Branco.
“A Queda dum Anjo” de Camilo Castelo Branco conta a história de Calisto Elói de Silos e Benevides de Barbuda, um deputado da província que chegou à capital para ser deputado no Parlamento. Um dia, em Lisboa, Calisto foi à ópera ver Lucrécia Bórgia e ficou chocado com o espetáculo que qualificou de tripúdio. E mais chocado ficou quando descobriu que o Estado subsidiava o Teatro de S. Carlos com vinte contos de réis anuais.
No dia seguinte, quando chegou ao Parlamento, estava um deputado do Porto a discursar e a reclamar mais um subsídio para o lírico Teatro de S. João. Foi então que Calisto Elói de Silos e Benevides de Barbuda resolveu pedir a palavra para fazer um daqueles discursos, cheios de arrebiques de retórica, para explicar a sua tese de que o Teatro não deveria ter dinheiros públicos. Este é um excerto da intervenção de Calisto:
“Eu sou de um país, Sr. presidente, em que se pede ao povo o subsídio literário para pagar com ele as tramoias da Lucrécia Bórgia. Eu sou de um país pobríssimo em que a vaia da Nação exangue sofre cada ano a sangria de algumas dúzias de contos para sustentar comediantes, farsistas, funâmbulos e dançarinas impudicas!”»Após 153 anos, os Calistos actualmente estacionados no parlamento ficaram incapazes de tomar as suas distâncias em relação ao «teatro independente» e o governo socialista, secundado por comunistas e berloquistas, transforma-se no público que os artistas são incompetentes para atrair, borra-se de medo e cede às chantagens dos agentes cólturais com o dinheiro dos contribuintes.
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