Abro a crónica desta semana com um delírio de grandeza da secretária de Estado da Modernização Administrativa, Graça Fonseca, cujo maior feito até à data foi ter partilhado connosco uma informação irrelevante para a governação do país. Agora partilhou connosco outra informação, se possível ainda mais irrelevante, e disse em entrevista que «nos 5 milhões de euros do Orçamento do Estado para propostas dos cidadãos (uma construção de marketing chamada Orçamento Participativo Português) nem o ministro das Finanças pode tocar».
Em resumo, fazendo as contas aos 83 mil milhões da despesa orçamentada, temos a seguinte repartição entre governantes que podem tocar no orçamento:
Tratemos brevemente da «contra-reforma da habitação» como lhe chamou António Costa, não o padrinho da reforma mas o jornalista com o mesmo nome. É um tema a que voltarei quando tiver tempo. Por agora, saliento apenas as consequências imprevistas e certamente indesejadas de algumas das principais medidas. Começo pelo delírio burocrático que é imaginar o governo a colocar no mercado dez mil habitações em tempo útil e a custos comparáveis aos dos mercado - no final podemos esperar que, uma vez mais, os contribuintes paguem a factura da ineficácia e ineficiência da máquina administrativa.
Prolongar a manutenção dos contratos congelados é como prolongar para esses contratos o regime de arrendamento republicano de 1919 - que o salazarismo manteve - responsável pela degradação dos centros urbanos e o êxodo para a periferia. Os constrangimentos contratuais aos inquilinos com mais de 65 anos irão levar compreensivelmente os senhorios a evitarem esses arrendamentos. Pelo lado dos incentivos aos senhorios as fantasias não são menores - alguém acredita que um senhorio se disponha a alugar por metade do preço de mercado dos novos arrendamentos para ter uma redução de 14% do IRS, como resulta das estimativas que foram publicadas relativamente ao desconto de 20% sobre a mediana das rendas no local?
Talvez o único incentivo que resulte seja o tiro no pé do fisco que reduz a metade o IRS para os arrendamentos superiores a dez anos com um ganho imediato para o senhorio que não garante que o prazo venha a ser cumprido. De facto, nada obriga o inquilino a cumprir o prazo e pode até incentivar o senhorio a propor um contrato a dez anos a inquilinos que só pretendem um arrendamento de curto prazo.
Voltando à vaca fria do défice, as celebrações estão a revelar-se demasiado exageradas. O défice de 2017 foi o segundo mais elevado da UE e mesmo sem a recapitalização da Caixa seria o décimo mais elevado.
Défices 2017 |
Ainda poderia haver a desculpa de a despesa ter aumentado 3,5% devido ao investimento público, mas acontece que o investimento orçamentado é de apenas 2,3% do PIB, ou seja o terceiro mais baixo dos 23 países que comunicaram a Bruxelas. E estamos a falar do orçamentado, porque o executado com as cativações do costume poderá ainda ser menor.
Quanto à dívida pública em 2017, a terceira mais elevada, ainda há menos razões para celebração.
Dívida pública 2017 |
Onde as coisas indubitavelmente melhoram é no crédito ao consumo onde a banca antecipa a aceleração da procura de crédito. E onde atingem o paraíso é no crédito automóvel cujo stock de dívida subiu 20% em 2017 e, citando o que um concessionário disse ao Observador neste inquérito, «é aquilo que quiser: crédito, ALD, ‘leasing’, ‘renting’? No crédito, pode ser até 100%. Pode ser até 120 meses, 10 anos. Taxa fixa ou variável. É o que quiser. Consigo fazer tudo».
Em consequência, no trimestre terminado em Fevereiro de 2018 as importações de automóveis de passageiros, de peças e acessórios e de outros bens de consumo duradouros e semi-duradouros atingiram no total 3.871 milhões, e poderão atingir este ano uns 15 mil milhões, ou mais de 7,5% do PIB. Já vimos este filme no passado e não acabou bem.
Quem for Caetano é descendente de indiano
ResponderEliminarEvocação involuntária do grande Vasco...mas esta avariada sexual é fonseca...
ResponderEliminarVá ver o seu nome completo
ResponderEliminarCorrigido o lapso freudiano de Graça "Moura" em vez de Graça Fonseca para designar uma criatura cujo nome completo é Graça Maria Fonseca Caetano Gonçalves e que deixou cair o "Caetano" e o "Gonçalves" sabe-se lá porquê.
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