«O problema do PSD não é Passos Coelho, mas este: o PS, desde o fim do governo de Cavaco Silva, transformou-se no partido do Estado e das clientelas do Estado, que são, neste como em anteriores regimes, a base do poder político em Portugal. Domina quem, a partir do Estado, tem meios para multiplicar e alimentar bocas. Nos últimos vinte anos, o PSD nunca teve esses meios. Apanhou sempre o lado mau do ciclo da governação, quando, após uma temporada de despesismo socialista, foi preciso congelar e cortar — em 2002 e em 2011. O PS pôde governar sozinho, em maioria ou em minoria, em ambiente geralmente de optimismo e consenso; o PSD teve de governar em coligação, no meio de toda a espécie de crispações. Previsivelmente, o PS emergiu como o “partido natural do governo”, o guardião do “sistema”, o abrigo dos interesses. A aliança de Ricardo Salgado com José Sócrates é a prova mais clara de como os poderes fácticos da sociedade portuguesa reconheceram os socialistas como interlocutores privilegiados.
A questão é saber se a sociedade portuguesa tem força para desejar outra coisa que não privilégios e benesses do Estado. Durante o ajustamento de 2011-2014, julgou-se que sim. Já se percebeu entretanto que não. Basta recordar a última campanha autárquica, e os subsídios, as casas, os benefícios fiscais prometidos em troca de votos.»
Excerto de «Passos Coelho, Ulisses e os porcos», Rui Ramos no Observador
Dito por outras palavras, o partido mais adequado para executar as políticas do PS é o PS e o país não precisa de dois partidos socialistas - um é suficiente. Ah, já me esquecia: o socialismo faz quase toda a gente feliz e, como disse a Thatcher, o único problema é que no final acaba o dinheiro dos outros. no nosso caso o dos "ricos" e/ou o dos credores. É por isso que só a realidade derrotará o PS. São séculos de história, senhores. É claro que para a realidade derrotar o socialismo é preciso que alguém ajude e é aí que surge a dúvida se Passos Coelho ajuda ou complica.
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