Outras marteladas.
Multiplicam-se as advertências sobre os efeitos das políticas não convencionais dos bancos centrais poderem desencadear a próxima crise financeira, algo para o qual temos vindo à chamar a atenção há uns cinco anos, pelo menos desde este post de 2012 (duas semanas antes do «whatever it takes» de Draghi): «ainda não saímos de uma e já estamos a trabalhar para criar a próxima. Vai acabar mal.»
O menos surpreendente dos avisos foi o de Wolfgang Schäuble, o ministro das Finanças de Merkel agora a caminho do Bundestag, cujas opiniões sobre disciplina fiscal são conhecidas, bem como as suas reservas quanto ao alívio quantitativo e às taxas baixas ou nulas adoptadas pelo BCE sob a batuta de Draghi. Em entrevista ao FT, Schäuble adverte para «o aumento dos riscos decorrentes da acumulação de mais e mais liquidez e o crescimento da dívida pública e privada» e o perigo de «encorajar novas bolhas».
John Mauldin conhecido analista financeiro, comentador do NYT e autor da newsletter Thoughts from the Frontline, esteve em Lisboa num encontro promovido pela Sociedade Francisco Manuel dos Santos e disse em entrevista ao negócios não ter dúvidas que uma nova crise chegará o que segundo ele não é necessariamente uma má notícia: porque «os políticos apenas fazem algo quando temos uma crise».
No mesmo encontro esteve Jean-Claude Trichet, antecessor de Draghi no BCE que deixou claro que o quantitative easing «não pode durar para sempre» nem substituir as reformas indispensáveis. No não pode durar para sempre está precisamente boa parte do problema como a próxima advertência mostra.
Por último, também a Economist, tendencialmente adepta do quantitative easing e do militantismo dos bancos centrais, publicou a semana passada um post no blogue Buttonwood cujo título diz tudo: «The next financial crisis may be triggered by central banks». Esse post cita um estudo do Deutsche Bank sobre o retorno de activos de longo prazo que mostra uma frequência crescente das crises nas últimas décadas e conclui que isso se deve ao abandono primeiro do padrão-ouro e mais tarde do sistema de câmbios fixos, permitindo aos governos desde meados dos anos 70 lidar com as crises económicas usando a política cambial, aumentando os desequilíbrios, com o crescimento constante da dívida pública e a consequente expansão do crédito e o subsequente colapso. Daí que uma nova crise possa estar prestes a surgir, apenas à espera de um trigger que pode ser um crash na dívida chinesa, o aumento do populismo ou a falta de liquidez nos mercados de obrigações ou, mais provavelmente, o fim das políticas intervencionistas dos bancos centrais.
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