«Ora eu penso que este orçamento devia ser recusado por toda uma outra série de razões, o problema é que a oposição social-democrata não as assume como suas e por isso tem dificuldade em assumir uma alteridade que lhe permitisse estar à vontade na recusa do orçamento socialista. O adjectivo que escolhi ,“socialista”, não é meramente descritivo, é o socialismo em que vivemos impregnados, e que hoje se chama “estado-providência”, ou “modelo social europeu”, que nos condena à mediocridade e à gestão no fio da navalha da cada vez menos riqueza produzida.
O orçamento devia ser recusado porque precisamos vitalmente de outra coisa, precisamos de mais liberalismo, de mais liberdade económica, de mais espírito empresarial. Sem mais “crise” (das que falava Schumpeter) e sem mais “boa” insegurança, não somos capazes de mudar. O estado tudo faz para nos poupar a essa insegurança, e, como toda a Europa, afundamo-nos, pouco a pouco, na manutenção, geracionalmente egoísta, de um modelo social insustentável a prazo e que nos condena a definhar. É verdade que duvido que hoje alguém consiga ganhar uma eleição propondo o fim do conforto providencial, mas isso remete para a perda de margem de manobra democrática, face ao crescendo demagógico. E nem sequer vale a pena apelar á racionalidade, porque ela, a não ser para meia dúzia de iluminados normalmente sem fome e com emprego certo, aconselha a ter a pomba na mão a troca-la pelas duas que estão a voar. Estamos de facto, um pouco tramados, mas se calhar foi sempre assim na história.»
Os dois parágrafos anteriores (previamente publicados na Sábado, reproduzidos aqui e muito oportunamente recordados pelo Insurgente) datam de há 12 anos, referem-se ao orçamento do governo de José Sócrates e não foram escritos por um perigoso neoliberal. Foram escritos por um maoísta do PCP (m-l), várias vezes deputado pelo PSD, co-fundador do Clube da Esquerda Liberal, apoiante de Mário Soares e desde há 7 anos compagnon de route dos socialistas, ainda militante do PSD, e por último provável candidato a musa de Rui Rio.
A explicação mais óbvia para estas translações frequentes entre as luminárias do regime é de que as suas mudanças de fé política são menos mudança de cuecas por razões de tripas e mais mudança de casaca por razões de ego ou de conveniência.
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