Outras marteladas e O clube dos incréus reforçou-se.
Recapitulando:
O intervencionismo do BCE, que copiou com atraso a Fed e o BoE, adoptando o alívio quantitativo e as taxas de juro negativas ou nulas, desde o «whatever it takes» do Super Mario de Julho de 2012, está cada vez mais parecido como terapêutica com a sangria dos pacientes praticada pela medicina medieval para tratar qualquer doença, incluindo a anemia.
Por razões fáceis de entender, estas políticas continuam a merecer a reverência, sobretudo em países como o nosso em que o Estado vive directa e sobretudo indirectamente, pela indução de confiança nos mercados, a expensas do BCE. Proliferam assim as luminárias que vêem a União Europeia e as miríficas políticas de mutualização da dívida como o alfa e ómega da salvação sem esforço das finanças arruinadas da pátria.
Agora que passaram dez anos do espoletar da última grande crise financeira, é quase um serviço público a divulgação das visões divergentes dos incréus na bondade das políticas de injecção de dinheiro e de juros artificialmente baixos dos bancos centrais. Como é o caso (inesperado?) de Patrick Jenkins, o editor financeiro do FT num seu artigo recente se pergunta «A decade on from the financial crisis, what have we learnt?» Muito pouco, creio.
Jenkins situa as raízes da crise em 1995 com a aprovação pela administração Clinton da alteração do Community Reinvestment Act para incorporar a agenda da «habitação acessível». Precisamente nesse ano foi criado o New Century Financial focado no crédito hipotecário de alto risco (subprime) que, para potenciar um crescimento exponencial do crédito aos americanos até aí sem score suficiente, lançou a securitização empacotando milhares ou centenas de milhares de crédito de alto risco e "vendendo" os pacotes como se os riscos individuais se anulassem colectivamente - o que aconteceu foi precisamente o contrário quando estas engenharias mostraram a sua verdadeira natureza sistémica. Em Abril de 2007 o New Century Financial faliu o incêndio começou a pegar na floresta. No ano seguinte quando faliram o Northern Rock e depois o Lehman Bros ficou claro que o sistema financeiro corria o risco de colapsar.
Dez anos passados, novos focos de incêndio são já visíveis. Nos Estados Unidos o car-loan subprime tornou-se um problema potencial com o crescimento de 70% em dez anos. A China com a sua dívida total em 300% do PIB é outro problema pronto a explodir, mas é apenas uma fracção da dívida total a nível mundial que triplicou para USD 271 milhares de biliões (triliões na escala curta).
Abaixo desta camada visível temos a invisível: os triliões investidos em projectos com TIR insuficientes que foram financiados a taxas de juro insustentáveis a longo prazo, taxas que quando gradualmente se forem aproximando dos seus níveis "normais" históricos tornarão esses investimentos inviáveis.
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