O trilema de Žižek acima representado é evidentemente apenas tendencial. Haverá sempre alguns socialistas (ou comunistas) que serão honestos e inteligentes. Talvez seja o caso dos economistas Paulo Trigo Pereira, deputado do PS, Ricardo Cabral, Luís Teles Morais e Joana Andrade Vicente, que apresentaram um estudo defendendo premissas orçamentais distintas das do orçamento que governo está a negociar com o PCP e o BE.
À primeira vista (e à segunda) o estudo não se afasta do pensamento dominante na Mouse School of Economics, designadamente no que respeita à fé nas propriedades miraculosas da despesa pública e da sua multiplicação, fé tão profunda que resistiu à constatação do desastre das políticas socialistas: um crescimento anual médio de 1% nos últimos 10 anos culminado pelo resgate de 2011, não obstante o elevado investimento público, que aliás este governo socialista reduziu em 2016 para metade.
Nesse sentido, podemos até concluir que o estudo retoma a "pureza" da doutrina socialista abandonada pelo pragmatismo sem princípios nem rumo da mistela de perdões fiscais, aumento de impostos, redução do investimento e cativações adoptada pela dupla Costa-Ronaldo das Finanças para conseguir a quadratura do círculo da sobrevivência da geringonça, mantendo felizes, até ver, Bruxelas, comunistas e berloquistas.
O que verdadeiramente afasta o estudo da mistela é o vértice inferior esquerdo do trilema de Žižek e a denúncia da «alquimia» orçamental:
«Não é possível, ao mesmo tempo, descongelar carreiras, aumentar emprego público, fazer actualizações salariais, pagar a fornecedores da Saúde e reduzir impostos. Isto não é possível, é do domínio da alquimia.»
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