Outras avarias da geringonça.
Prosseguindo a produção de mistificações em geral e em particular sobre as suas responsabilidades directas no fracasso do SIRESP, Costa começou por não ficar satisfeito com as conclusões dos relatórios (não, não é paródia) e em entrevista ao Expresso tenta chutar a bola para fora do seu campo: «o colapso do SIRESP resultou do colapso da rede da PT». Sobre este chuto de Costa, veja-se esta sequência de acontecimentos e declarações que vai desde o incêndio de Pedrógão até à responsabilização da PT.
Este expediente de Costa tem uma piada acrescida porque a justificação principal do SIRESP foi proporcionar um meio de comunicação seguro e alternativo às comunicações públicas existentes. Se calhar teria sido melhor entregar a cada bombeiro e a cada elemento da Protecção Civil um Nokia 3310 de menos de 50 euros.
Registemos mais uma golpada do governo socialista que no célebre imposto Mortágua, a maior criação do berloquismo fiscal so far, na aplicação do adicional de 0,3% ao IMI dos proprietários de imóveis que detenham mais de 600 mil euros de valor patrimonial tributável. O fisco em vez de ter em conta o património dos contribuintes coproprietários, cujo limite seria 1,2 milhões, tributou separadamente nos casos em que a tributação conjunta não foi pedida, como se não soubesse da propriedade conjunta.
Se a divergência no seio da geringonça se medir pelo stock de «precários» há um oceano entre o socialismo governamental e o esquerdismo bloquista. Segundo os primeiros serão 30 mil, de acordo com os segundos serão 100 mil. À primeira vista, e até à segunda vista, pode parecer difícil de perceber mas tem tudo a ver com o que designamos aqui no (Im)pertinências por «maldição da tabuada» resultante de séculos de incontinência numérica, muito agravada nos últimos 40 anos, que aflige os tugas em geral e os políticos tugas em particular.
Inevitavelmente essa maldição estende-se a todos os domínios e, muito especialmente às contas públicas. Não admira por isso que a trapalhada das contas de 2016 tenha deixado os juízes do Tribunal de Contas confundidos e a queixar-se. Ele são entidades que deveriam estar consolidadas e não estão nas contas, ele são entidades que nem sequer apresentaram contas ao TC, em suma, lamentam os juízes, «o rigor e a transparência das Contas Públicas continuam comprometidos», ou citando Ricardo Arroja estamos perante «um tratado de incumprimento estatal. De inimputabilidade prolongada. De reiterada aldrabice institucional.»
Se não fosse o caso de a austeridade já ter sido completamente banida pelo governo, um mal-intencionado poderia dizer que a falta de verba para a manutenção das viaturas estaria a obrigar a GNR a encostar os carros e mandar os guardas fazer patrulhas a pé. Mas não se trata disso, o governo constatando os ventres proeminentes de muitos soldados resolveu criar condições para que façam um pouco de exercício. Outro mal-intencionado também poderia dizer que o governo é um caloteiro porque nos 5 meses terminados em Maio as dívidas à indústria farmacêutica aumentaram 195 milhões para 739 milhões. A indústria diz que em Junho eram 930 milhões.
Com os 517 milhões de dívida pública portuguesa comprada em Julho o BCE, desde o início do programa em Março de 2015, já comprou 28,7 mil milhões (mM) ou quase 12% do stock actual de dívida (249,1 mM). Como há mal que nunca acaba, como a dívida pública crescente, mas não há bem que sempre dure, as compras do BCE vão sendo gradualmente reduzidas até ao final deste ano.
Passado o período de graça, que no caso da geringonça se deveria chamar período de borla, as corporações agitam-se preocupadas em manter o seu lugar à mesa do orçamento. Em entrevista ao Público, o bastonário da Ordem dos Médicos dá uma bastonada ao governo acusando-o de explorar brutalmente os médicos que, segundo ele, têm uma «profissão de alto risco e desgaste rápido». Sim, pelo critério dos governos socialistas gregos da família Papandreou que também consideravam as cabeleireiras como profissão de risco. Em resposta o governo diz que aumentou as remunerações dos médicos entre 15% e 20%, mais do que a qualquer outra corporação.
Quanto a economia, Costa diz que será este ano «o maior crescimento económico de todo o século XXI». Seria um grande feito não fosse desde 2001 até 2016 o PIB (base=2011) ter crescido... 2% o que dá uma taxa média anual evanescente de 0,01%! Quanto à OCDE, o seu indicador avançado, embora sempre acima de 100 desde Novembro de 2013, reduziu-se pelo quinto mês consecutivo.
Para se perceber melhor as fragilidades deste crescimento, recorro a Nicolau Santos, uma autoridade na doutrina da Mouse School of Economics e nosso pastorinho preferido da economia dos amanhãs que cantam, que postulou na sua coluna do Caderno de Economia do semanário de reverência, depois de muito especular sobre o mistério da retoma conviver com a queda do crédito: «a retoma está assente em parte importante no sector imobiliário, que depende em parte de não-residentes que estão a comprar casas em Portugal (...) É um modelo frágil e com riscos de esgotamento a mais ou menos médio prazo» . Eu diria mesmo mais, não é um modelo deste governo mas é frágil.
E a taxa de desemprego que voltou a descer para 8,8% em Junho o valor mais baixo desde 2009? É claro que é positivo, mas convém não esquecer algumas coisas. A começar por terem sido criados principalmente empregos de baixa qualificação - cerca de 2/3 dos novos empregos no 2.º trimestre são de pessoas com o ensino básico, a continuar com o facto de os inactivos e em situação de subemprego são 900 mil, quase o dobro dos desempregados e o turismo (graças ao Estado Islâmico...) criou mais de 50 mil empregos este ano.
«O algodão não engana», dizia o mordomo do anúncio do Sonasol às faxineiras descuidadas. No caso da economia portuguesa temos dois algodões que não enganam: a dívida pública para avaliar a faxina governamental e as contas externas para avaliar o resultado da faxina no país. A dívida pública, que não pára de crescer, e que para diminuir, mesmo com um crescimento da economia ao redor dos 2% (que há pelo menos 20 anos nunca foi alcançado senão por períodos curtíssimos), com as taxas actuais, que só podem crescer a médio prazo. seriam necessários saldos primários de 3%-4% coisa nunca vista há décadas.
O défice da balança comercial retomou o antigo padrão e voltou a crescer em Junho tendo atingido no primeiro semestre 6,3 mM, apesar do aumento das exportações (12,2%) que foi superado pelo das importações (14,5%). Ainda estamos longe dos 10% do PIB durante o apogeu socrático mas com 6-7% estamos a caminho. E devemos acrescentar o efeito dos popós que continuamos a importar com gosto e, do lado do lado da produção, quase toda para exportação, voltou a diminuir 14% em Julho- Sem esquecer as encrencas que os sindicatos comunistas estão a criar na Autoeuropa e que podem inviabilizar a produção de um novo modelo. Não fora o turismo, que a esquerdalhada e a bem-pensância lisboeta (em muitos dos casos quase a mesma coisa) abominam, e os seus cerca de 7% do PIB, estaríamos com as contas externas quase no estado em que as deixou o socialismo socrático.
É o resultado da animação visível no crédito aos particulares que está a atingir máximos históricos no primeiro semestre 3,8 mM para a habitação e 2 mM para o consumo. Em contrapartida, o crédito às empresas não financeiras reduziu-se 3.3% no mesmo período de 15,5 para 13,9 mM.
Estamos de volta a 2010. Cheira-me que o Babush vai provocar eleições para se eternizar na cadeira antes que as coisas descanbem, como inevitavelmente acontecerá.
ResponderEliminarO Globalismo assente em mão-de-obra estrangeira vai passando na AR de fininho e não vejo ninguém a protestar como deveria ser feito. O que estas alterações vão fazer ao nosso tecido social, ficará patente em muito pouco tempo.
A "onusina" mão que embala o berço...
ResponderEliminarVai acabar tudo num magnífico fogo de artifício.
«Vai acabar tudo num magnífico fogo de artifício.»
ResponderEliminarOmita o artifício, sff