Para refrescar as memórias apagadas pelo jornalismo de causas, convirá recordar que o Lacerda Machado, amigo que Costa encarregou de negociar a reversão da reprivatização e de seguida nomeou administrador da TAP, é o mesmo Lacerda Machado administrador da Geocapital (com os dinheiros de Stanley Ho) que detinha 65% da VEM (Varig Engenharia e Manutenção) em parceria com a TAP que detinha 35%, parceria negociada em 2005 com o governo Sócrates. E era o mesmo Lacerda Machado que quando se comprovou que a VEM era um negócio falhado usou uma cláusula do contrato que ele tinha empandeirado ao governo para forçar a TAP a comprar em 2007 os 65% da Geocapital ficando a TAP desde então a suportar os prejuízos (ver aqui um resumo). E é o mesmo Lacerda Machado que fez parte da equipa que Costa como ministro da Administração Interna nomeou para renegociar o contrato do SIRESP, sistema que tem uma história de falhanços, o último dos quais no incêndio de Pedrógão Grande (ver aqui um resumo e ver aqui a história). E foi o mesmo Lacerda Machado que o mesmo Costa encarregou de negociar os helicópteros Kamov para combate aos incêndios florestais, frequentemente inaptos para voar, que segundo as contas do Expresso até Abril do ano passado tinham custado 348 milhões de euros ou 35 mil euros por hora de voo.
E a propósito de Pedrógão Grande, não vou repetir o que no (Im)pertinências já se escreveu sobre o desastre que foi a gestão do combate ao incêndio e da protecção das pessoas e as manobras de desinformação do governo, com a ajuda do esquadrão de jornalistas ao serviço da geringonça. Vou apenas recordar o que o actual primeiro-ministro. ministro da Administração Interna entre 2005 e 2007, e líder de um partido que nos últimos 22 anos esteve 17 no governo, disse precisamente em Pedrógão Grande o ano passado: «"Se nada for feito", no presente, como o ordenamento e o cadastro, adiado por sucessivos governos, a floresta "voltará a arder daqui a 10 anos"» - só precisámos de esperar menos de um ano. E o que disse 5 dias depois do incêndio com a maior das desvergonhas: «este é o momento de fazermos a reforma adiada há muito da floresta».
Em mais uma manifestação do princípio L'État c'est nous, o governo de Costa nomeou para a administração da Anacom duas pessoas com ligações à PT, um dos operadores supervisionados, uma elas delas ex-secretária de Estado de Sócrates, um apparatchik socialista que fez carreira em cargos de nomeação do PS e um presidente que é director do BdP e foi recentemente rejeitado para a administração.
O mesmo princípio foi aplicado para ao dinheiro proveniente dos donativos privados para as vítimas do incêndio de Pedrógão Grande que o governo resolveu confiscar para o gerir com a eficácia que se lhe reconhece.
Muito oportunamente, no momento em que se começou a perceber a gestão caótica do incêndio de Pedrógão Grande pelo governo, o BdP anunciou a revisão muito festejada das suas previsões de crescimento: 2,5% para 2017 (antes 1,8%), 2% para 2018 e 1,8% para 2019. Não foram festejadas as razões do aumento das previsões [aumento das exportações (9,6%) e do investimento (8,8%)] o que se compreende porque são alheias quer ao que o governo fez quer à sua estratégia no programa de governo que passava por puxar a economia pelo consumo.
Também não foram festejados outros factos: (1) não haver ganhos de produtividade visto que o aumento do emprego (2,4%) absorverá praticamente o aumento do PIB (2,5%); (2) não haver praticamente aumento da poupança privada (o consumo crescerá quase tanto como o PIB) não apenas em 2017 mas até 2019; (2) o aumento das importações (9,5%) absorverá 70% do crescimento da procura interna e 55% do aumento das exportações as quais cresceram menos do que as importações (12,7% contra 14,8%), aumentando o défice da balança de bens em 800 milhões para 3,3 mil milhões (mM) de euros. (A maioria deste números foi citada por Daniel Bessa no Expresso) Assim se comprova, uma vez mais, que com a actual estrutura produtiva pretender puxar a economia portuguesa pelo consumo acaba a puxar pelas importações e, em consequência, a piorar as contas externas e aumentar o endividamento.
Falando de importações, cada vez que os portugueses embandeiram em arco as importações de veículos particulares disparam. Este ano querem tranquilizar-nos dizem-nos que cerca de 26% das importações são para as empresas de aluguer dada a procura turistística. Pois será, ainda assim o restante aumentou quase 4% até Maio depois de ter aumentado quase 20% o ano passado até Maio.
Sabendo-se que as previsões económicas existem para tornar credíveis as previsões meteorológicas, como disse Galbraith que, apesar das suas ideias de esquerda (moderada), não praticava a economia de causas, no vosso lugar não colocaria todas as fichas nas previsões do BdP, tanto mais que o indicador de actividade económica do INE estabilizou em Abril. Pode ser que sim.
Acreditando ou não nos amanhãs que cantam, não devemos esquecer os passados que choram e os presentes que gemem. Por exemplo, a dívida total do sector público e empresas não financeiras que voltou a subir 5 mM em Abril para 723,6 mM graças sobretudo ao sector público que subiu 4,8 mM de euros para 315,9 mM de euros. A boa notícia é que o endividamento das famílias e das empresas privadas está a diminuir apesar de estarem a ser sangrados para aplacar a voracidade do Moloch estatal.
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Nem mesmo à Caixa, de quem há umas semanas não se ouvia falar, se pode aplicar o adágio no news, good news. As primeiras notícias depois do silêncio não são propriamente boas: Paulo Macedo veio avisadamente lembrar-nos que «se a CGD não der lucro tem que pedir mais dinheiro aos contribuintes» o que, sendo verdade, não é toda a verdade porque mesmo após anos de lucros (fictícios) lá tivemos que torrar mais dinheiro. Mas o que verdadeiramente Macedo nos avisa é que «se queremos um banco público com maior dimensão, os contribuintes têm que meter mais dinheiro. Tem dimensão quem tiver capital.» Dito de outra maneira, Macedo deitou contas à vida e constatou que o aumento de capital foi insuficiente para manter a Caixa a flutuar. Porque será que não estou admirado?
Os sindicatos, leia-se o Partido Comunista, continua a assinar o ponto com as suas greves que até agora são apenas provas de vida para garantir a coesão dos aficionados. Foi o caso do pessoal dos trabalhadores da Securitas e da Prosegur que fizeram uma greve que só foi notada porque uma vintena deles se manifestou em frente do aeroporto de Lisboa.
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