Este post é um complemento deste outro a propósito de um comentário de um leitor via email, do qual extraio a seguinte passagem:
«(...) ninguém diz que o terrorismo na Europa está a aumentar, isso é uma distorção por parte dos meios de comunicação, um exemplo clássico da falácia do espantalho… o que nós dizemos é que o terrorismo islâmico na Europa está a aumentar, o que é totalmente diferente!
O próprio gráfico em si, concebido propositadamente para fazer passar uma determinada narrativa, é um exemplo acabado da velha máxima de que é possível mentir às pessoas recorrendo a estatísticas.»
Não creio que o gráfico tenha o propósito de passar uma narrativa, como se pode confirmar lendo o artigo de onde foi extraído e analisando um segundo gráfico que evidencia ser o terrorismo jihadista o mais mortífero desde 2001.
Seja como for, o meu post anterior faz parte de uma longa série, iniciada aqui há 7 anos com o propósito de desmontar narrativas ou, como agora se diz, factos alternativo e pós-verdade. Tem sido, com outro nome, uma espécie de fact check que só recentemente o Observador vulgarizou em Portugal. Neste caso e em concreto, o mito que pretendi desmitificar foi, como o título indica, «o terrorismo está a aumentar» - o terrorismo em geral, entenda-se - e a este respeito os factos não deixam dúvidas. Acrescento que também se pode concluir não ser até agora o terrorismo jihadista de inspiração religiosa mais mortífero do que foi o terrorismo de inspiração nacionalista do IRA ou do Euskadi.
ResponderEliminar1. Quando li o artigo original tive a mesma reação do leitor que cita.
2. A sua clarificação ("pretendi desmitificar que o terrorismo está a aumentar") não clarifica nada porque no seu artigo apenas referiu terrorismo na Europa, deixando de fora as Torres Gémeas e centenas de outros ataques
https://en.wikipedia.org/wiki/List_of_Islamist_terrorist_attacks
3. Além disso, "terrorismo a aumentar" tanto pode ser em número de mortos, em número de atentados, em espaços geográficos, em número de ataques frustrados, etc. Por exemplo, a ETA e o IRA estavam limitados geograficamente; os limites geográficos dos ataques terroristas muçulmanos aumentam todos os dias.
4. As duas tabelas que forneceu referem número de mortos; pelo que quando muito o seu objetivo seria "desmitificar que o número de mortes em atentados terroristas na Europa está a aumentar". Mas não é isso que diz. E há uma grande diferença entre "o terrorismo está a aumentar" e o "número de mortes por ação dos terroristas na Europa está a aumentar".
5. Temos hoje meios empenhados no combate ao terrorismo de uma ordem de magnitude que nunca existiu no tempo da ETA e no tempo do IRA, com todos os gastos e prejuízos que isso implica. Restringir o terrorismo apenas aos peixes que passam a rede, e não aos milhares de peixes apanhados na rede, é apenas uma habilidade linguística.
6. Além disso, rebentar-se no meio de uma multidão é apenas uma das facetas do fundamentalismo islâmico. Os arrastões em praias, as violações, as bofetadas em mulheres francesas ou alemãs que não usam hijab, estão em fato de banho, as no-go zones da Suécia, França, Inglaterra, Noruega, etc., tudo isso faz parte do mesmo pacote, os incidentes são às dezenas de milhar, mas não aparecem nos seus números. Nada disto fazia a ETA ou o IRA.
7. A questão que interessa é esta: pela sua natureza, o terrorismo islâmico tem algo de especialmente preocupante? Para responder a esta questão interessa pouco olhar a números ou andar a brincar com definições. É preciso sentar e ler quais são as verdadeiras linhas de força que conduzem a ação dos muçulmanos.
8. Nem o IRA nem a ETA diziam que as outras pessoas eram inferiores, que quem deixasse de ser basco seria assassinado, que terra conquistada pela ETA era terra basca para sempre, nem queriam impor um sistema legal originário em tribos primitivas e bárbaras, etc. Também não diziam que quem morresse a matar inimigos da Irlanda ia para o céu rodeado de 75 virgens que recuperam a virgindade todas as manhãs, nem proibiam os seus membros de qualquer diversão (futebol, doces, alcool, festas, sorrir, etc.) de forma a fazer-lhes a vida num inferno tornando muito atrativa a opção "escapa a este inferno indo diretamente para o céu morrendo a matar infieis".
9. Há muitos livros bons sobre a matéria. Posso-lhe sugerir este:
The Politically Incorrect Guide to Jihad, William Kilpatrick.
10. Gosto de ler o seu blog, mas não percebo porque torce a lógica e o bom senso na defesa de uma posição cujas implicações e contornos claramente não percebe.