24/04/2017

Crónica da anunciada avaria irreparável da geringonça (80)

Outras avarias da geringonça.

Segundo o semanário de reverência Expresso, o «Governo pressiona agências de rating» e «Mourinho Félix fez raide nos EU para a saída do "lixo"» - sim, é o mesmo Félix que protagonizou aquele número deprimente com Dijsselbloem, registado para a posteridade por um câmara-homem de causas. Tendo sobrevivido àquele momento de ridículo mortal, Félix abusa da sua sorte e reincide com o «raide» às agências, talvez pensando pôr as perninhas dos analistas a tremer como aquele outro pateta imaginava fazer tremer as perninhas dos banqueiros alemães.

O ministro da Cultura quebra o silêncio desde o show Cornucópia, com a participação especial de Marcelo, e promete que irão ser criados lugares de quadro para os trabalhadores de museus e monumentos, dando assim o seu contributo cóltural para a engorda da vaca marsupial pública.

No seu esforço de levar o governo aos ombros, a imprensa amiga produz títulos que são verdadeiros achados, como os do Público «Centeno conta com prenda nos juros para pagar exigência da esquerda» e «Estado só acaba de encolher em 2020», ambos da autoria do seu director.

Para quem imaginava ser o berloquismo uma doutrina higiénica, em contraste com as práticas políticas dos partidos do arco governativo, como no passado se chamava em centralês ao trio PS-PSD-CDS, os últimos tempos têm sido pródigos em exemplos de um mercantilismo a fazer inveja a Miguel Relvas, como a finta de não querer que seja votado o Programa de Estabilidade, ao mesmo tempo que se opõe ao essencial das suas medidas. Num outro episódio humorístico o BE acusa o governo de estar a fazer o jogo de Bruxelas (é verdade) e chama «poupança forçada» ao crescimento da despesa abaixo do crescimento do PIB «para chegar a 2021 com um saldo primário de 10,7 mil milhões» o que leva o Estado a ter «um lucro de 5%». Um lucro? Terão estas almas os cérebros liquefeitos? E não, não foi a artista Catarina, foi a economista Mortágua que se saiu com esta vacuidade. Em qualquer caso, como é que votaram o OE 2017 que já previa a mesma estratégia de austeridade (sim, de austeridade)?

Os comunistas fazem o mesmo por outros meios. Por um lado evitam cuidadosamente inviabilizar a geringonça e por outro voltam às ruas para darem provas de vida, como a manif da Fenprof na terça-feira onde se apresentaram com uma faixa de 550 metros digna de figurar no Guinness. Na sexta-feira foi a vez da Federação dos sindicatos dos utentes da vaca emitir um pré-aviso de greve para que o pessoal não docente se manifestar junto ao ministério da Educação fazendo borrar as calças do factótum que lá mora em representação do controleiro da Fenprof. Deve ter sido uma coisa pífia, a avaliar pela falta de fotos empolgantes no diário do regime.

Quanto ao Programa de Estabilidade 2017-2021 (PE), começo por citar o parecer do Conselho das Finanças Públicas (CFP) sobre as previsões macroeconómicas onde logo na introdução se ficam a conhecer as manigâncias do governo com o envio às mijinhas da informação ao CFP entre o dia 28 de Março e 13 de Abril no próprio dia em que o PE e o Programa Nacional de Reformas foram enviados ao parlamento e tornados públicos, antecipando em 7 dias a data que o governo tinha informado o CFP. É mais um episódio do jacobinismo desavergonhado com que o governo tenta manipular e, não o conseguindo, opta por tentar anular os órgãos independentes.

Para ser curto e grosso. o PE é pouco mais do que um exercício fantasista que o governo irá apresentar a Bruxelas para conseguir dois propósitos principais: (1) sair dos procedimentos de défice excessivo e (2) tentar manter aberta a torneira do BCE. Como escreveu Pedro Braz Teixeira o governo não desvenda como irá alcançar os objectivos «provavelmente para não indispor o BE e o PCP».

Para quem acredita no milagre do défice é bom lembrar que os governos portugueses andam a prometer cortar o défice desde 1143. E se não acreditarmos no milagre dos défices e em outros milagres igualmente exigente em matéria de fé, não será possível acreditar na trajectória delirante da dívida pública, ora veja-se:



Se o PE é um exercício de fantasia, o Plano Nacional de Reformas é um exercício de trivialidades vazio de reformas com impacto significativo indispensável para criar uma dinâmica de crescimento - leia-se a este respeito o resumo de Alexandre Patrício Gouveia no Observador.

Para além do efeito de propaganda, ainda não se percebeu muito bem o que pretende o governo da geringonça com o «diploma para estimular a igualdade salarial entre homens e mulheres», para além da ejaculação legislativa em si mesma. Desde logo porque, com perdão da minha profunda ignorância nestas matérias, ainda não descortinei qual é as situações onde, para a mesma função e posição profissional, alguma empresa pratique uma tabela salarial com salários diferentes para homens e mulheres. Talvez eles estejam a confundir com o facto de o salário médio dos homens em muitas actividades ser geralmente mais elevado do que o das mulheres, mas isso é outra loiça e não se resolve com diplomas para estimular. Não se resolve, vai sendo resolvido gradualmente, como se vê pela proporção de mulheres que todos os anos se graduam nas universidades. Um dia chegará em que uma outra geringonça pretenderá ejacular um diploma para discriminar positivamente os homens.

Ficámos a saber que o FMI nas previsões publicadas no Fiscal Monitor não está propriamente optimista em relação a Portugal, antecipando o agravamento das contas públicas a partir de 2018 - veja-se no diagrama a diferença para o optimismo de Centeno.
Jornal Eco
Acresce que na conferência de imprensa do FMI foi dito o óbvio ululante que a geringonça e a imprensa amiga têm constantemente escamoteado: «o ajustamento ou a redução ligeira do défice nos últimos anos foi feita com base em cortes no investimento público».

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