Outros nus do presidente.
Mais um comentário desalinhado com a graxa geral a Marcelo. Que estas apreciações críticas se tornem mais frequentes pode ser um sinal que os mídia e a comentadoria doméstica se começam a libertar do estado de estupor em que os mergulhou a agitação febril de Marcelo e o medo de enfrentarem uma opinião pública infantilizada pela opinião publicada.
«Após quase um ano em Belém, Marcelo dobrou procedimentos e regras protocolares do regime. Envolveu-se em disputas partidárias, por exemplo imiscuindo-se das questões internas da liderança no PSD. Permitiu a instrumentalização da Presidência por parte do Governo, que a usa como factor de legitimação. Revelou-se incapaz de isenção, sendo por isso visto como mais próximo de Costa do que de Passos – e, de resto, assumiu-se como advogado de defesa do ministro das Finanças no caso da CGD, em relação ao qual já ninguém duvida dos seus erros. Ainda, Marcelo descreveu reiteradamente a situação financeira do país em tons que não coincidem com a realidade. Fez da “descrispação” a sua bandeira – quando esta não passa de uma fraude. E aproximou-se tanto do primeiro-ministro e do governo que, não raras vezes, mais do que porta-voz, parece ser ele quem toma as decisões – tudo passa por ele, é ele o primeiro-ministro do primeiro-ministro e o ministro de cada ministro.
(...)
Ninguém sabe o que Marcelo realmente defende. Ninguém o acha suficientemente distanciado do governo ou das tricas partidárias do PSD para avaliar com isenção. Ninguém o vê como reserva de último recurso do regime porque é ele quem se põe na primeira fila de cada decisão. E ninguém consegue antecipar o que fará perante uma situação de crise política.»
«Saudades de Cavaco Silva», Alexandre Homem Cristo no Observador
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