A honestidade intelectual é rara à direita como à esquerda, mas a falta dela à esquerda, num país onde predomina o analfabetismo funcional, é mais grave porque potenciada pela ocupação dos mídia por agendas predominantemente esquerdizantes. É por isso que devemos saudar quem à esquerda escapa à doutrina Somoza e escreve com inteligência e independência coisas assim:
«Não quero apagar as minhas discordâncias com uma série de políticas seguidas por esse governo, desde a (tentativa de) desvalorização fiscal à custa da TSU à insistência em medidas inconstitucionais, em vez de procurar alternativas válidas que exigiam um reformismo mais laborioso. Nem quero minimizar o papel do Banco Central Europeu na saída limpa do resgate. Apenas estou a dizer que, apesar de erros pelo caminho, Coelho conseguiu, no meio da tempestade, levar Portugal a um porto aceitável, o que, em dados momentos, poucos considerariam provável. E, apesar de governar num período tão difícil, Coelho “ganhou” as últimas eleições.
Dir-me-ão que é o momento de virar a página no PSD. Que o anúncio do Diabo em 2016 correu mal. Mas, infelizmente, basta ver como as taxas de juro da dívida portuguesa têm evoluído nos últimos tempos (actualmente, nos 3,9%), como o BCE tem vindo, paulatinamente, a recuar na sua política monetária (que foi um autêntico balão de oxigénio para Portugal) e como se discute com cada vez mais insistência uma reestruturação da dívida para perceber que nunca o Diabo esteve tão próximo. Na verdade, o grande defeito de Passos Coelho é, ao mesmo tempo, simples e difícil de superar: ninguém quer que ele tenha razão.»
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