04/12/2016

Talvez François Fillon seja um liberal... em França

Desde que François Fillon foi eleito candidato do partido de centro-direita francês Les Républicains, fazendo sair do palco Nicolas Sarkozy pela direita baixa e vencendo na segunda volta Alain Juppé, a nossa direita e alguns dos nossos liberais. nem todos de direita, suspiraram e pensaram: voilà ce qu'on attend!

Antes de comemorar, talvez convenha ver mais de perto o projecto político e as propostas de Fillon. No que respeita à Europa, o programa de Fillon  propõe um «projet européen recentré sur la zone euro qui sera engagé dès mai 2017 avec un calendrier précis établi à l'avance», projecto que se foca sobre a harmonização das políticas orçamentais e fiscais dos membros da Zona Euro que deverá conduzir a prazo a um super-ministério europeu das Finanças.

Segundo o projecto Fillon, em três anos, França e Alemanha (sim, leram bem, França e Alemanha) deverão ter impostos únicos sobre lucros e capitais e IVA a uma taxa única; a prazo essa fiscalidade seria extensiva aos restantes países da Zona Euro. Fillon defende também a substituição das políticas monetárias acomodatícias do BCE por reformas estruturais e um calendário de redução dos défices. Até aqui, à parte as dificuldades de adopção da harmonização fiscal, certamente Fillon seria acompanhado por Merkel e Schäuble.

Já quanto às ideias de Fillon de uma maior integração e, muito particularmente, quanto à mutualização das dívidas e à extensão do mandato do BCE ao crescimento e emprego, à semelhança da Fed americana, essas são completamente inaceitáveis pela Alemanha e, ainda que fossem aceitáveis, seriam uma fuga para frente e só exacerbariam as fracturas e, muito provavelmente, antecipariam o desmantelamento da UE na sua configuração actual.

Por tudo isso, e pela sua proximidade ao czar Vladimir (o Politico até escreve sobre «The new Putin coalition», talvez devamos concluir que se Fillon for um liberal é um liberal dirigiste, isto é não é um liberal e que as suas propostas boas não são exequíveis e as exequíveis não são boas. É claro que isso não invalida que, contra as ofertas do PS e da Frente Nacional, seja a opção menos má. Salvo se, por uma improvável distracção dos deuses da política, Emmanuel Macron, o antigo ministro da Economia de Hollande, viesse a ser o candidato do PS. Aí, teríamos de pensar melhor no assunto.

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