Outras avarias da geringonça.
Como se sabe, depois de 4 anos a protestar contra a suposta obsessão do anterior governo pelo défice e a clamar pelo crescimento, a geringonça, à míngua deste, elegeu o défice orçamental como a sua prioridade e heróica realização. Também aqui, apesar da engenharia orçamental e ainda antes do lavar dos cestos no fim da vindima, que com toda a probabilidade revelarão uma realidade diferente, não há grandes motivos para festejos e a Unidade Técnica de Apoio Orçamental (UTAO) faz uma estimativa do défice do OE 2016 no intervalo 2,5%-3,1% o que põe em dúvida o cumprimento da meta da CE de 2,5%.
Tudo isto apesar do chuto para 2017 da recapitalização urgentíssima da Caixa, que agora pode esperar, para conseguir sair do procedimento dos défices excessivos e ganhar espaço de manobra para continuar a comprar a clientela eleitoral e colher os louros de mais esta «realização».
Também a estratégia de crescimento baseado no consumo que o PS e sua Mouse School of Economics nos venderam durante anos não pareceu resultar durante vários trimestres porque nem o crescimento disparou (quanto ao do 3.º trimestre, que levou a geringonça a embandeirar em arco, já lá vamos), o que não é surpresa a não ser para os aficionados, nem mesmo o consumo se moveu... salvo a compra de bens de consumo duradouro que cresceu 8,5% até Setembro. Adivinhe de onde veio o dinheiro para comprar esses bens (do crédito pessoal que subiu quase 30%) e adivinhe de onde vieram esses bens e o impacto sobre a balança comercial.
«Como é possível que se esteja a repetir o quadro macroeconómico que nos levou ao pedido de ajuda internacional em 2011?» pergunta, surpreendentemente, Nicolau Santos, o nosso pastorinho da economia dos amanhã que cantam, a propósito daquele aumento, numa breve pausa de lucidez nas suas habituais alucinações. Como é possível?, pergunto também eu.
Voltando ao embandeirar em arco a propósito do crescimento no 3.º trimestre, como aqui se explica não havia razões para bandeiras porque, colocando «os crescimentos homólogos em perspectiva desde o momento da saída da troika (últimos nove trimestres)»,
poderia concluir-se que «a única parcela que nos pode animar é a Procura Externa e mesmo essa está empolada em 0,25 pela venda dos F-16 à Roménia».
A confirmação do exagero do embandeirar veio com o aumento de 70 milhões do défice da balança comercial de bens em Outubro face ao mesmo mês do ano passado, resultante de uma queda de 3,5% das exportações. Excluindo os combustíveis e lubrificantes (com preços inferiores aos do ano passado). o aumento do défice foi de 134 milhões de euros.
Por tudo isto, não admira que o Commerzbank (outra vez os pérfidos alemães) nos mantenha na zona de perigo e um dos «candidatos à crise na zona euro» por várias razões (problemas na banca e fraco crescimento) incluindo a alteração do programa de compra de dívida do BCE. A este respeito, registe-se a tónica que Draghi colocou na necessidade de acelerar as reformas estruturais, o que deveria ser uma preocupação para um governo que até agora só fez contra-reformas com a sua política de reversões.
Quanto ao FMI, cuja equipa passou por cá para um follow-up, está um pouco mais optimista mas, ainda assim, considera que a meta do défice para 2017 só será alcançável com medidas adicionais de 760 milhões que defendem ser na despesa corrente e não no investimento público (pois, pois).
Também o Eurogrupo na sua declaração sobre o OE 2017 não deixa dúvidas sobre a provável necessidade de medidas adicionais (reconhecida por Centeno, lá, não cá).
Para ajudar à festa, as sequelas da governação socrática agravaram-se: as projecções dos compromissos financeiros com as PPP entre 2016 e 2043 foram revistas pela UTAO em alta em 434 milhões.
É claro que para o governo tudo corre no melhor dos mundos, em particular a segurança social cuja sustentabilidade já não é garantida só para os próximos 50 anos, como nos jurou há 20 anos aquele que está agora nas Nações Unidas, mas para toda a eternidade e por isso se admite até travar o aumento anual da idade da reforma.
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