«Porque este governo representa uma grande promessa: a promessa de que a sociedade portuguesa, afinal, não precisará de fazer nenhuma das mudanças necessárias para arrancar o país de uma longa estagnação económica que compromete, a prazo, todas as suas expectativas. Segundo o governo, basta irmos fazendo despesa e dívida. De facto, sabemos que tudo depende de um único factor: de o BCE continuar a financiar o endividamento de que vivemos. É essa a última protecção do país contra uma reacção imediata dos credores à recusa do governo de desenvolver em Portugal um ambiente mais propício para o trabalho, a poupança e o investimento. É a primeira condição deste governo: o imobilismo temporariamente permitido pelo dinheiro barato do BCE.
Mas o oxigénio do BCE requer défices com um certo aspecto. Em que é então este esforço orçamental diferente do anterior? Em tudo: não corresponde a um saneamento financeiro, mas a um projecto de poder. Os actuais governantes esperam controlar o país através do que podemos chamar um “clientelismo de massa”, que compreende o funcionalismo público, os pensionistas de maiores rendimentos e ainda os banqueiros do Estado – uma espécie de “chavismo rico”. A austeridade foi redistribuída de modo a dar aos rentistas do regime uma sensação de segurança, à custa de todos os contribuintes e da degradação dos serviços públicos. É a segunda condição deste governo: a passagem do Estado social ao Estado clientelar.»
Excerto de «As três condições deste governo», Rui Ramos no Observador
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