Outras dúvidas sobre a consumação do Brexit.
O Supremo Tribunal da Grã-Bretanha decidiu a semana passada que competia ao Parlamento invocar o artigo 50.º do Tratado para a Grã-Bretanha sair da EU, contrariando o governo que defende ter a autoridade exclusiva sobre essa matéria e que, por isso, vai apelar para a revisão da decisão. Ainda que o Supremo Tribunal mantenha a decisão, dificilmente o Parlamento votará contra o Brexit, apesar de a maioria dos deputados não ser a favor da saída. É o custo de uma cultura democrática.
Entretanto, velhas teorias económicas estão a ser invocadas para justificar a permanência. Uma delas é o «modelo de gravidade» de Jan Tinbergen, um Nobel holandês, que explica a geografia do comércio internacional com base em duas dimensões PIB e distância: (1) quanto maior o PIB dos países numa relação comercial bilateral, maior é o fluxo de trocas entre ambos; (2) quanto mais distantes se encontram dois países, menor é o volume de comércio entre eles.
Desse modelo, cujas capacidades explicativas foram recentemente confirmadas por vários estudos, incluindo a sua aplicabilidade aos serviços, decorre obviamente que para a GB é mais fácil desenvolver as trocas com a UE, ali mesmo ao lado, do que com os EU com um oceano pelo meio, apesar de as dimensões das economias serem próximas.
Decorre igualmente do modelo de gravidade que o argumento dos Brexiters de que países populosos da Commonwealth, como a Índia, ou fora dela, como a China, poderão facilmente substituir a UE, fica enfraquecido pelo facto de ainda durante muitos anos o PIB per capita da UE será superior a qualquer desses países.
(Ver uma fundamentação mais desenvolvida aqui.)
Na verdade, nenhum destes argumentos racionais parece capaz de contrariar uma decisão baseada na irracionalidade do medo e do preconceito - os eleitores britânicos, ou a maioria deles, estão a fazer de Luddites substituindo os teares, como ameaça aos seus empregos, pelos imigrantes.
Sem comentários:
Enviar um comentário