Secção George Orwell
Era uma vez um pastorinho da economia dos amanhãs que cantariam mas não cantaram e, pelos vistos, não cantarão. Chamava-se Nicolau Santos e tinha o blogue «Keynesiano, graças a Deus», no Expresso, onde escrevia coisas que o John Maynard se ressuscitasse lhe diria Nicolau, Sir, you got stuck in the 30s. (O parágrafo anterior é uma espécie de introdução, que já escrevi de outras vezes, aos dislates da criatura)
Desta vez o pastorinho descobriu por que razão a dívida pública do Portugal da geringonça tem taxas mais elevadas do que a Espanha e a Itália, com situações tão parecidas, segundo ele. Porquê? perguntareis. Simples meu caro Watson, por causa de «quatro alemães contra nós». É precisamente este o título do seu escrito a que não chamo crónica, a não ser no sentido de «doença permanente no indivíduo».
E quem são as bêtes noires do nosso pastorinho de estimação e o que pretendem com a sua conspiração contra o Portugal da geringonça? O pérfido e inevitável Wolfgang Shauble pretende «desviar o foco das atenções do Deutsche»; o pérfido Klaus Regling porque «é alemão, convém não esquecer. E falou pouco dias depois de Wolfgang Shauble»; o outro pérfido Günther Oettinger porque «também é alemão»; finalmente o pérfido conspirador Otmar Issing «teve uma ligação ao Deutsche Bank, é amigo e trabalhou estreitamente com Vítor Gaspar». Voilà. É caso para perguntar onde estaríamos nós se não fossem os alemães? Seríamos o tigre celta em vez do tareco lusitano?
Simples, não é verdade? Por que ninguém ainda se tinha lembrado disso? Ora, porque nem todos têm acesso privilegiado ao Baptista da Silva.
Pela crónica e pela carreira atribuo ao pastorinho Nicolau cinco bourbons, por nada aprender e nada esquecer, e cinco chateaubriands, por confundir efeitos com causas.
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