Numa leitura original do polémico livro de José António Saraiva «Eu e os políticos» (que não li), Pedro Tadeu escreveu no DN uma peça interessante sobre a prática do que chamamos jornalismo em Portugal (que inclui o que nós no (Im)pertinências costumamos designar por jornalismo de causas), de onde destaco:
«(...) o que lemos a maior parte do tempo são descrições detalhadas de uma forma de praticar o jornalismo que parece estar incorporada como "normal" pois ninguém, no meio de tanta indignação pelos "segredos" publicados, pareceu importar-se com isso.
Segundo este entendimento da minha profissão é natural jornalistas e políticos percorrerem juntos os mais caros restaurantes de Lisboa para negociarem notícias, traficarem timings de publicação, emporcalharem reputações, congeminarem manobras, conceberem planos governamentais, ajudarem a eleger líderes partidários, interferirem noutros media.
Segundo este entendimento, é natural jornalistas irem aos palácios do poder ouvir "confidências" de presidentes e governantes, darem "conselhos" aos poderosos, aceitarem publicar notícias de veracidade duvidosa e verificação impossível, transformar palpites adivinhatórios em factos, assegurar - nos tempos difíceis - mútuos empregos e colaborações bem remuneradas.
Segundo este entendimento, é portanto natural políticos e jornalistas de topo, proclamando independência e separação de águas (é mesmo cego quem não quer ver), trabalharem juntos, horas ao telefone, para, em primeiro lugar, perpetuar o estatuto das respetivas castas e, em segundo lugar, gerir a luta entre fações que, conjunturalmente, divide essas castas.»
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