04/09/2016

O tigre celta e o tareco lusitano (8) - Os felinos são todos iguais mas há uns mais iguais do que outros

[Sequela de (1), por sua vez sequela de O rugido do tigre vs o miado do gato, de (2), de (3), de (4), de (5), de (6) e de (7)]

«Vamos supor então que um qualquer governo português recebia este bónus fiscal de 13 mil milhões de imposto por Bruxelas. Recusava-o, preocupado com a imagem no país perante os investidores e a pensar sobretudo nas próximas gerações? Ou aproveitava para aumentar ainda mais a despesa pública e gastar à tripa forra porque há clientelas para alimentar e eleições para ganhar? Sim, as questões estão já feitas de forma a induzir uma resposta porque, até pelo acima exposto, sabemos qual é o padrão a que os sucessivos governos sempre nos habituaram. Num país que adoptou o regime económico da ditadura fiscal, como o nosso, nenhum governo abriria mão de um cêntimo que fosse para alimentar o “monstro” e para os foguetórios habituais.

O nosso Estado não só tributa cada vez mais tudo o que mexe — agora vem aí o acesso automático às contas bancárias com saldos a partir de 50 mil euros — como tem um comportamento absolutamente canalha: persegue o mais pobre cidadão que deva um cêntimo mas demora anos a pagar aos seus fornecedores sem que alguém, alguma vez, seja penalizado ou pague sequer juros pelo atraso. Se isto não é uma ditadura, é o quê?

Aliás, não foi por acaso que as Finanças foram a correr verificar se também podiam ir cobrar alguma coisinha à Apple depois da decisão de Bruxelas. Então Dublin não quer receber e a nós não nos calha nada?

A competitividade dos países não acontece por acaso e a sua maior ou menor prosperidade também não. Além de um rigor estratégico que sobrevive às mudanças de governo, a Irlanda criou condições para poder recusar o jackpot fiscal em nome da sua reputação.»

«13 mil milhões. E se fosse consigo?», Paulo Ferreira no Observador

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