[Outros imensos Portugais]
«Senado aprova impeachment, Dilma perde mandato e Temer assume. Presidente afastada perdeu mandato por 61 votos favoráveis e 20 contrários. Senadores rejeitaram pena de inabilitação da petista para funções públicas.»
Ricardo Costa, a respeito do qual escrevi em tempo que é um jornalista bom no género mau que pode vir a fazer o upgrade para o género bom, ex-director do Expresso, onde continua a fazer editoriais com outro nome, escreveu a respeito do impeachment de Dilma Rousseff, um artigo cuja síntese está no título «Brasil, não é um golpe mas também não sei bem o que é». Transcrevo o excerto seguinte que põe em causa a tese do golpe e denuncia a habitual duplicidade moral da esquerdalhada (a duplicidade moral da direita, evidentemente existente, neste caso não se aplica):
«É muito difícil qualificar de golpe algo que tem legitimidade legal e constitucional. Quando os partidos de esquerda e de direita franceses alteram a lei eleitoral para impedir que a Frente Nacional tenha poder executivo isso é o quê? Um golpe? Ou é legítimo porque impede um partido xenófobo de ter poder? Quando, por exemplo, Matteo Renzi convoca um referendo para alterar a Constituição e retirar poder a uma das câmaras eleitorais e ameaça demitir-se se perder, é exatamente o quê? Quando o sistema eleitoral britânico impede o UKIP de eleger deputados, isso está certo? Mas quando impede os verdes ou os liberais já está errado?
O outro argumento é menos sólido, porque assenta numa avaliação política e moral. Parte da óbvia falência do governo PT e da sua gravíssima erosão moral para concluir que um partido tão descredibilizado já não conseguia governar, muito menos endireitar uma economia em queda livre. Mas foi um argumento sublinhado pelo próprio PT em grande estilo, começando no caso Mensalão e acabando no Lava Jato, que fazem corar de vergonha qualquer pessoa que agora grita que há golpe. O Mensalão é, isso sim, um verdadeiro golpe. Um sistema de pagamento contínuo de "luvas", enganando eleitores e contribuintes e transformando a câmara de deputados numa espécie de bordel onde tudo se compra.»
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