04/07/2016

Crónica da anunciada avaria irreparável da geringonça (38)

Outras avarias da geringonça.

Recordam-se de Costa se vangloriar das greves estarem em extinção no seu governo? Nem de propósito, os sindicatos da Saúde já estão a preparar as suas.

Uma vez mais as previsões do FMI de crescimento de 2016 foram revistas de 1,4% em Abril para 1%; e as de 2017 foram revistas para 1,1% . Talvez por isso, Centeno parece admitir que as suas projecções são insustentáveis, mas, debatendo-se com o célebre dilema dos chapéus (o do político e do economista), espera - uma semana depois do Brexit, note-se - «uma aceleração da economia ao longo do ano». Será uma espera mais longa do que a espera de Godot, já que é duvidoso até mesmo atingir a meta revista em baixa para 1,2%. Vejamos outra vez o carrossel das previsões no diagrama seguinte do Público:


Ao dilema dos chapéus de Centeno devemos acrescentar o Estranho Caso de Dr Jekyll e Mr Hyde quando o chefe da geringonça contradiz publicamente as previsões do seu ministro das Finanças, arrumando o assunto com um «nós não vivemos de previsões, vivemos de realidades» o que é um pensamento muito próprio de quem vive de retórica. Será um prenúncio do efeito Campos e Cunha que saltou do comboio socrático em andamento ao fim de poucos meses? Quando Costa garante que o seu governo «nasceu para enfrentar e resolver desgraças» e está preparado para as «piores previsões» sucumbe outra vez à retórica, confundindo desgraças com previsões.

Quanto ao défice deste ano, que em Março estava em 3,2% - um ponto percentual acima da meta de 2,2% - o FMI pela voz de Subir Lall já deixou de se preocupar porque é tarde demais para o corrigir. A UTAO chama a atenção para que a capitalização da Caixa e o Brexit terão um impacto significativo. Quanto ao défice até Maio que o governo pretende estar 453 milhões abaixo do ano passado, Miguel Morgado do PSD contesta que isso se deve à contabilidade criativa. Conhecendo-se a longa experiência dos governo PS (e PSD) nessa área, não é caso para admiração (ver aqui e aqui os cálculos do Insurgente).

Não admira, portanto, que a dívida pública continue a subir a bom ritmo tendo aumentado em Maio 1,6 mil milhões e 6 mil milhões nos últimos 3 meses, atingindo no final de Maio 237,6 mil milhões (cerca de 132% do PIB).

É neste contexto que o governo se admira da «preocupação» de Klaus Regling, o director do Fundo de Resgate, por se estarem a «reverter reformas» e a «tornar-se (o país) menos competitivo», e se indigna com os avisos de Wolfgang Schäuble, o ministro alemão das Finanças.

A garantia de potência, isto é o estado de prontidão das centrais térmicas para cobrir as necessidades de abastecimento de electricidade, é um dos custos de sermos os campeões das energias renováveis que se caracterizam pela sua intermitência que tem de ser compensada pelas térmicas. Não é que a geringonça tenha por enquanto alguma responsabilidade especial nesta matéria, mas convém saber que as rendas a pagar até 2032 à EDP e a Endesa estão estimadas em 665 milhões.

Se o presente da gerigonça é o que é, imagine-se o que será o futuro quando se ouve pela boca de João Torres, o líder da JS, em entrevista à Revista do Expresso, que vai ser acrescentado um tema à agenda fracturante. E não, não é o casamento com animais! É a limitação da salários nas empresas privadas!

Esta crónica não poderia terminar sem uma referência ao primeiro sério arrufo no seio da geringonça. A propósito do referendo proposto pela presidenta do BE, o PCP reagiu com piroropos que vão desde «sound bites de ocasião», «oportunismo» e «manipulação» a  «objetivos populistas e de protagonismo mediático»

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