26/06/2016

ACREDITE SE QUISER: Magia socialista


«Minhas senhoras e meus senhores, minhas meninas e meninos! Tenho a enorme honra em vos apresentar a maior magia de todos os tempos! Depois de vermos um país a crescer sem crescer, com o desemprego a baixar sem baixar, e uma dívida pública que desce a subir, depois de vermos uma vaca com asas, teremos hoje o enorme privilégio de assistir ao arrojado e inimaginável lance: fundos de indemnização sem capital! Nem Wall Street alguma vez sonhou tal! 

No cumprimento de mais uma palavra dada à sociedade e aos enganados do BES, pela primeira vez em Portugal alguém se vai aventurar a criar um fundo de indemnização sem capital para indemnizar! É verdade! Um autêntico milagre só comparável ao da multiplicação dos pães! Pois vejamos: o fundo de indemnização para os lesados do GES não tem capital porque o Estado o não coloca lá. Se lá colocasse mais €250 milhões a dívida pública que já aumentou este ano 2,84% aumentava perigosamente e o défice que já se prevê carregado ficaria ainda mais comprometido... Por isso, o fundo de indemnização será alimentado com empréstimos do fundo de garantia dos depósitos (FGD) e no diferencial, pelo fundo de resolução (FR).

Tal como o nome indica, o FGD serve para garantir depósitos. Não sendo estes títulos depósitos, ou sequer emissões de instituições financeiras, o FGD não serve, nem pode, compensar os lesados do papel comercial. Mas que importa isso? Serão apenas os depositantes, que verão o seu fundo ser usado para resgatar uma promessa do Governo. Ao fazê-lo nos corredores da finança, o Governo evita os embaraços de um orçamento retificativo, de uma discussão parlamentar ou as perguntas incómodas dos jornalistas. 

No restante saldo não coberto pelo FGD pede-se aos demais bancos do sistema que o suportem. Pasmem-se meus senhores e minhas senhoras! Afinal o sistema bancário português aguenta, não só as potenciais perdas derivadas do Novo Banco e do Banif, como também as que, num passe de mágica inacreditável, se podem continuar a retirar aos bancos para este esquema! 

E se eles ficaram sem margens e sem lucros e se por isso deixarem de pagar IRC e se o Estado deixar de receber o que deveria, não faz mal! É mera ilusão! O Estado que de facto é contribuinte desta solução e que terá de repor o que o FGD não pode suportar, deixa de o ser porque quem o afirma é o Governo e os lesados que, se não o dissessem, não receberiam o que vão receber! (Até eu o dizia para receber o meu!) 

Rufem tambores que agora vem o maior perigo! 

Pois não é que estes lesados conseguiram, na ordem de prioridades creditícias, passar à frente dos próprios credores do BES ou até dos titulares das cinco séries de obrigações que saíram do Novo Banco?-Só um mago! Um alquimista!»

«Magia!», João Duque no Expresso

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