16/05/2016

Crónica da anunciada avaria irreparável da geringonça (31)

Outras avarias da geringonça.

Começo pelo estado da ménage à trois. O camarada Jerónimo, sem precisar de tradutor, declarou que «a adesão foi um desastre (ao Euro) e a permanência é um desastre ainda maior. Recuperar a soberania monetária é recusar esta sentença.»  Pelo lado do Berloque também é cada vez mais visível a profunda comunhão entre a social-democracia de Costa e o ecossocialismo berloquês - vejam-se as quatro moções apresentadas nas jornadas parlamentares do BE em Évora.

A que passou foi mais uma hebdomas horribilis para o governo da geringonça que não augura nada de bom para o futuro dos portugueses. O PIB cresceu apenas 0,1% no 1.º trimestre em relação ao último trimestre do ano passado e apenas 0,8% em termos homólogos em relação ao primeiro trimestre de 2015. Estamos cada vez mais longe dos 1,8% das projecções do orçamento, para já não falar dos 2,2% do programa de governo ou dos 3% do documento dos sábios da Mouse School of Economics. Bem pode o governo desculpar-se com a Europa, mas o certo é o crescimento homólogo da Zona Euro foi 1,5% contra os 0,8% da economia da geringonça e apenas os amigos de Costa na Grécia conseguiram pior - diminuir o PIB.

A taxa de desemprego que tinha subido de 11,9% para 12,2% no último trimestre do ano passado voltou a subir no 1.º trimestre deste ano para 12,4%. No trimestre, a população desempregada aumentou 6,3 mil pessoas e a população empregada diminuiu 48,2 mil pessoas. (INE)

Em matéria de contas externas estamos a voltar aos tempos socráticos. «O défice da balança comercial de bens registou um acréscimo homólogo de 133 milhões de euros em março de 2016 e o défice da balança comercial excluindo os Combustíveis e lubrificantes aumentou 185 milhões de euros. No 1º trimestre de 2016, as exportações de bens diminuíram 2,0% e as importações de bens cresceram 1,0% face ao período homólogo.» (INE)

Como se não fosse suficiente, está em risco a suspensão do acesso a fundos comunitários, a única fonte que resta para investimento, já que o capital nacional se evaporou há anos e a poupança continua a cair e está a um terço da média da zona euro e metade da anterior à adesão ao euro. E está em risco porque o governo de Passos Coelho não respeitou as metas de redução do défice entre 2013 e 2015, o que nos deveria levar a uma dúvida existencial: então o governo «neoliberal» não tinha ido além da troika?

Depois de um orçamento cujo relatório tem 215 páginas e precisou de uma errata de 46 páginas em Fevereiro, menos de dois meses depois, 20 alterações ao orçamento foram discutidas no parlamento e o governo explica que a maior parte são gralhas. O que aconteceria se este orçamento fosse de um ministro sem o diploma da Mouse School of Economics? Seria justamente trucidado pelo jornalismo de causas e a comentadoria do regime.

Quanto ao «acordo de paz social» anunciado em Janeiro pela ministra do Mar para pôr fim às greves, o Sindicato dos Estivadores no porto de Lisboa retribuiu anunciando mais uma vez outro prolongamento da greve, desta vez até 16 de Junho.

Entre várias outras inovações, o Programa de Estabilidade prevê a progressividade do IMI com uma taxa em função do património imobiliário total detido pelo sujeito passivo. A geringonça diz que não aumenta os impostos e pela porta do cavalo transforma um imposto sobre imóveis num imposto indirecto progressivo.

Quanto à entrevista de Costa à SIC, foi a habitual lengalenga a iludir a realidade, rivalizando com José Sócrates mas com manifestamente menor competência para a mentira. Como em relação ao emprego em que falou de «um saldo positivo neste trimestre de 5000 novos postos de trabalho» num trimestre em que foram perdidos 48 mil. Ou como em relação ao défice comercial, atribuído por Costa aos combustíveis, quando mesmo sem eles o saldo se agravou em 640 milhões de euros. E o que dizer das mentiras sobre o famigerado Plano B que tão depressa não existe, como passa a existir sob a forma de um «anexo secreto» e se transforma a seguir num lapso.

2 comentários:

  1. A Grecia teve finalmente um excedente na balança comercial, desmentindo os liricos que continuam a mentir aos portugueses alegando que está provado que os programas negociados com as "instituições" são um falhanço total.

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  2. Este é um país de aldrabões, de vigaristas.

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