«Em Lisboa há três tipos de lojas: as recentes, as antigas e as com história. As recentes são recentes, as antigas são antigas e as com história são falidas. A diferença entre uma loja antiga e uma com história é que a loja antiga vende produtos a clientes; a loja com história, não. Uma é parte activa da economia da cidade, a outra é património imaterial. Literalmente: não tem material que atraia clientes. Mas aguenta-se porque é "histórica" no sentido em que, historicamente em Portugal, todos desejam viver a expensas do Estado, que vai manter as rendas baixas. Às custas dos proprietários. A loja com história não tem clientes, tem fãs. Que, como se lembram de ter lá ido em criança, decretam que deve permanecer aberta. (...)
Para conservar a memória deste tipo de serviço, a Câmara de Lisboa vai recongelar as rendas destas lojas. A CML quer preservar a personalidade própria das lojas falidas da Baixa. (Ao mesmo tempo que, com regulamentos que obrigam os toldos e esplanadas a serem todos iguais, não deixa que lojas que tentam ter lucro tenham personalidade própria). O objectivo é impedir que Lisboa fique igual a outras cidades que atraem turistas, descaracterizando-a. Se estas lojas fecham, perde-se uma das maiores características portuguesas: a economia subsidiada pelo Estado.»
«Lojas históricas, fãs histéricas», José Diogo Quintela no CM
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