Portugal está em situação de emergência desde 2009/2010. 24 horas por dia, 365 dias por ano, há sete anos em crise. Não se pode continuar assim — e o problema é que vocês não estão a mudar nada no país e na economia. Pelo contrário. Visto de fora, e generalizando, a vossa economia continua a parecer uma coisa amorfa, com pouca ambição e pouco planeamento. Está na altura de acordar. (…)
(…) os custos unitários do trabalho caíram. Mas isso aconteceu porque tinha de acontecer e porque é uma consequência direta da crise. Não foi uma escolha deliberada. Não houve um chefe do governo, há sete anos, a dizer “Ouçam. Vamos atravessar uma enorme desvalorização interna, vamos criar uma economia mais ágil e, a partir daí, vamos construir a base para exportar mais, apoiar as indústrias com bons resultados e, progressivamente, viver melhor”. O que aconteceu não foi um plano, foi uma consequência. (…)
Já ouvi essa história de virar a página da austeridade. Boa sorte. Vejo este governo a falar numa viragem da “página da austeridade” na única altura em que Portugal se tornou competitivo como país. Agora querem recuar. Boa sorte.
Vão voltar a cair em recessão. E vão incorrer em mais dívida e vão voltar a precisar de um perdão de dívida. O novo governo parece interessado em anular num ano o que se conseguiu em sete anos. (…)
A vossa língua é uma das mais faladas do mundo e a generalidade das pessoas fala bem inglês, em comparação com outros países. Mas, apesar de tudo isto, têm uma dívida elevadíssima, um dos piores sistemas políticos da Europa, têm um Tribunal Constitucional que gosta de intervir na política. Porque é que Portugal tem dos melhores vinhos do mundo e não conseguimos comprá-los em lado algum? Alguma coisa está mal com o modelo económico. Um pouco de esforço e imaginação adicional podem fazer toda a diferença. (…)
Portugal tem um setor público enorme. Encargos em cima de encargos. E toda a gente que beneficia do Estado de alguma forma, e isso inclui muitos no setor privado, tem um incentivo lógico — ao nível individual — para não querer uma mudança. Porque é que alguém há de votar para que lhe tirem dinheiro do bolso? Enquanto o Estado tiver esta dimensão, não poderá haver mudança — não só em Portugal mas em muitos outros lugares. (…)
Steen Jakobsen, economista-chefe do Saxo Bank, em entrevista ao Observador
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