20/04/2016

CAMINHO PARA A INSOLVÊNCIA: Here we go again (12)

Como se pode recordar aqui, os saldos de tesouraria do Estado deixados pelo governo de José Sócrates no final do 1.º trimestre de 2011 eram 1,4 mil milhões (insuficientes para sequer pagar os salários dos funcionários públicos no mês seguinte) e no governo PSD-CDS chegaram a atingir 22 mil milhões três anos depois. Com a antecipação da amortização de alguns empréstimos do FMI para baixar a média taxa de juro, um ano depois o saldo já tinha baixado para 11,6 mil milhões. Depois disso, estranhamente, não há dados oficiais publicados e ficamos a saber pela CE que no final de 2015 a liquidez era apenas de 6,6 mil milhões e no final do ano será de 7,4 mil milhões o que constitui uma almofada insuficiente que a CE recomenda deve ser a correspondente a 12 meses de financiamento ou seja uns 11 mil milhões.

Os saldos das contas externas pela primeira em décadas começaram a ser positivos desde 2013. Segundo o Eurostat, voltaram a registar-se défices crescentes: -0.01, -0.23, -0.16, -0.43 pontos percentuais do PIB de Novembro a Fevereiro. Convém recordar-se que défices nas contas externas significam um aumento da dívida total pública e privada ao estrangeiro – a dívida total líquida que no final de 2013 foi de 99,9% do PIB subiu para 101,5% dois anos depois (Fonte: Pordata).

Tudo isto já seria preocupante se a economia estivesse a crescer o que a gerigonça projectou (1,8%). Acontece que todas as outras previsões são inferiores, desde o FMI com 1,4% até à CE com 1,6%, passando pelo BdeP com 1,5% e a realidade está aí para atropelar a geringonça porque, segundo a estimativa do ISEG, o crescimento homólogo no 1.º trimestre deste ano foi ainda inferior (1,1%).

Quem já percebeu tudo foi a CE que no Post-Programme Surveillance Report, Winter 2015/2016 identificou a necessidade de medidas adicionais. Costa volta a meter a cabeça na areia e nega, argumentando que execução orçamental nos primeiros meses do ano registou um excedente – pois claro, as medidas do «re» ainda não estavam a produzir efeitos na despesa.

Onde é que já vimos este filme, com outros protagonistas mas o mesmo enredo e a mesma produção?

Há quem pense que em 2011 o problema estava nas agências de rating, em Angela Merkel, etc., e depois passou a estar na troika e no governo «neoliberal» e agora está em Bruxelas. É mais ou menos o mesmo que um bêbado crónico pensar que o seu problema é a família que quer interná-lo na Casa de Saúde do Telhal e o médico que quer que ele beba água em vez de briol e, não fora uma e outro, ele viveria feliz para sempre.

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