«Não, eles não estão malucos.
Maluco estava quem acreditou que o PS sofria apenas do mal da oposição, mas que lhe bastaria chegar ao governo para sentir outra vez a responsabilidade, compreender os limites, reconhecer os constrangimentos. Doce ilusão. Durante quatro anos, os líderes do PS renegaram o memorando que o seu próprio governo negociou, atribuíram todas as dificuldades do país a uma conspiração “neo-liberal”, e cultivaram com esmero um ódio teológico à “direita”. Talvez não tenha chegado para convencer o eleitorado, mas chegou para se convencerem a si próprios de que valia tudo para afastar a maioria PSD-CDS, e que inverter as suas políticas era necessário, mesmo que não fosse realista. Que poderia um líder do PS fazer, depois de quatro anos de anti-austeridade?
Não, eles não estão malucos.
Maluco estava quem pensou que o apoio do PCP e do BE não teria consequências, nem custos. Era apenas o “alargamento da democracia”, iria finalmente comprometer comunistas e radicais na governação e iniciá-los na responsabilidade e na sensatez. Pouca gente quis admitir que o PCP e o BE não chegaram ao poder por terem mudado de ideias ou de métodos, mas unicamente porque um líder do PS derrotado nas eleições precisou dos seus votos para ganhar no parlamento. Se alguém teve de mudar até agora, foi o PS, como se viu no caso da educação, onde já quase renegou todo o seu passado governativo. É óbvio que conservar o braço sindical do PCP tem um preço, e é óbvio que o BE precisa de uma guerra com a “Europa”, até para justificar algumas votações. Mas que alternativa tem António Costa, depois de perder as eleições?»
Excerto de «Eles não estão malucos», Rui Ramos no Observador
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