14/02/2016

CASE STUDY: Centeno e o princípio de Kahn

Não vou escrever sobre a frase fatal de Mário Centeno em entrevista ao Diário de Notícias («quem tem 2000 euros de rendimento tem uma posição privilegiada») que indignou as hostes da indignação. Não escrevo por várias razões, a começar porque é verdade: nove em cada dez agregados familiares têm menos de 27.500 euros de rendimento anual (Pordata) - agregados familiares que, note-se, na maioria dos casos, têm duas pessoas com rendimentos do trabalho.

Em vez disso, escrevo sobre a preferência que Centeno confessou explicitamente ter por «restrição» em vez austeridade. Exemplos: «o objetivo é conseguir uma redução gradual dentro daquilo que a restrição orçamental nos permite»; «essa restrição orçamental teve de ser ainda mais ajustada atendendo àquilo que foram medidas tomadas em 2015, com incidência em 2016, que obrigaram o governo a definir mais medidas de incidência fiscal».

O que me fez lembrar Alfred Kahn, um dos assessores económicos do presidente Carter, que foi por este repreendido ao referir-se publicamente em 1978 a uma possível depressão da economia americana. Na sua intervenção seguinte, Alfred Kahn disse «we're in danger of having the worst banana in 45 years». Centeno evocou-me Kahn por más razões: num insólito desdobramento de personalidades desempenhou simultaneamente o papel de Carter e de Kahn fazendo-se a si próprio de idiota útil.

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