«Por causa do exacerbamento ideológico do PREC, ainda hoje ninguém se atreve a reconhecer que é de “direita” (com a excepção de Paulo Portas). Ser de “direita” ainda hoje serve de insulto e convoca o desprezo. Pior do que isso, cobre tendências diferentes de um grande bloco de opinião, que só se define pelo facto de não ser de “esquerda”. Autoritários, democráticos, liberais, dirigistas cabem todos nesse grande cesto de opróbrio.
De resto, nunca houve na verdade uma “esquerda”. Houve desde o princípio facções, com uma caracterização teórica miudinha, separadas por um odium theologicum, difícil de imaginar para quem não leu Marx ou Lenine e o rebanho dos seus seguidores. Quem é capaz de explicar o que separa, por exemplo, o Bloco e o PC? Ninguém; nem sequer, desconfio, os desmiolados que por lá andam. Ou as divisões do PS não directamente relacionadas com a carreira e as promoções da militância mais zelosa do seu próprio interesse? E, no entanto, o sopro romântico da “esquerda” continua eficaz na sociedade romântica em que vivemos. É essa a sua força essencial, que se distribuiu ao acaso pelos “corações sensíveis”. Politicamente quase nunca faz sentido ou é seguramente classificável. Mas persiste na sua barafunda. Ser de “esquerda” não deixou de ser um certificado de virtude.»
Posições, Vasco Pulido Valente no Público
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