«Não há nada mais sebastianista do que a esquerda atual, que lá vai saltando de D. Sebastião em D. Sebastião. Parece um querubim a saltar de nuvem em nuvem. Hollande e Tsipras representaram esse papel, foram dois estupendos saltitões, saltaram de utopia em utopia até caírem na realidade. Realidade, essa, que a esquerda portuguesa continua a confundir com a tal "austeridade", essa espécie de sub-fascismo que aflige as almas "neoliberais". Em Portugal, o que resta deste nevoeiro místico que aguarda o advento do salvador está anichado no candidato da Aula Magna, que, neste momento, é apenas sub-apoiado pelo PS. Este sub-apoio, diga-se, é uma das novidades desta sub- campanha.
Nóvoa simboliza aquelas pessoas que estão presas nesta contradição há anos: até ao meio- dia, insultam o tal capitalismo de casino, recolhendo os frutos da boa imprensa; depois do meio- dia, defendem uma governação viciada nesse capitalismo (dizem que é keynesianismo), rejeitando, por exemplo, qualquer travão ao endividamento dos estados. Ou seja, dizem que o capitalismo é péssimo, mas depois rejeitam qualquer medida que distancie os estados desse capitalismo. Não por acaso, a esquerda não investe na ideia defendida por muitos liberais clássicos como Martin Wolf: retirar aos bancos a capacidade de criar dinheiro eletrónico; o poder de cunhar moeda (real ou virtual) deve ser monopólio dos bancos centrais, não pode ficar à mercê das alavancagens virtuais de bancos privados; se estivesse mesmo interessada em atacar o capitalismo dos nossos dias, a esquerda portuguesa estaria neste momento a cantar hossanas a um referendo que se realizará na Suíça - a Iniciativa Vollgeld defende o fim deste capitalismo virtual. Ora, a esquerda passa ao lado desta crítica concreta ao capitalismo, porque a sua governação depende da burla virtual dos Madoffs. É nos mercados financeiros que a esquerda encontra o dinheiro que serve de base às suas promessas eleitorais, mais salários, mais direitos, mais isto e aquilo.
Nóvoa entra, portanto, no terreno da comédia quando diz que defenderá sempre a Constituição contra os credores internacionais. Em 2016 ainda é preciso explicar aquilo que devia ter ficado claro logo em 2008: a crise do capitalismo virtual é sobretudo a crise da esquerda socialista, porque a despesa socialista (ex.: salários, obras) é feita com o dinheiro que os Nóvoas pedem emprestado aos Madoffs. A Constituição não faz dinheiro. Quando diz que defenderá sempre a Constituição contra os credores, Nóvoa revela que é uma de três coisas: não sabe o que está dizer, conhece a realidade mas está a mentir, quer imprimir moedas de Escudo algures em Belém. É um ingénuo, um hipócrita ou um político nacionalista? Julgo que não passa de um ingénuo orquestrado por hipócritas e por um perigoso e crescente nacionalismo de esquerda.»
Henrique Raposo no Expresso
A despropósito, quem não depende dos Madoffs é o candidato Paulo Morais que garantiu ontem que se for eleito no próximo ano lectivo os livros do ensino básico serão gratuitos. Paulo Morais depende das suas meninges que, como se vê, fazem a sua inchada mente confundir a função constitucional do presidente da República com a de primeiro-ministro.
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