31/12/2015

Pro memoria (280) – Há coisas que nunca mudam

«As fraquezas humanas, que têm que ver com os humores, o fígado, a gasolina, as vénias, as influências, os compadrios, explicam esta atitude no que se refere ao Partido dito Socialista. Com efeito, ele montou rapidamente uma máquina administrativa e uma rede de influências, sucessora da extinta União Nacional, que faz de cada membro deste partido um privilegiado. Neste país de bichas, ser do Partido Socialista é estar à cabeça de qualquer bicha, quer para um cargo de mando quer para um emprego. Mais, e mais grave: tratando-se de socialistas do topo, o «socialismo» do interessado constitui até uma protecção contra a acção da justiça, pois chegamos a assistir ao espectáculo escandaloso de ministros (incluindo o primeiro) e porta-vozes do PS atacarem e injuriarem, em público, o poder judicial, para defender membros do partido e fazerem pressão para influir no decorrer do processo. Isto é simplesmente uma violação da Constituição actual e de qualquer Constituição democrática, cuja base universal é a separação de poderes (legislativo, executivo e judicial). Num país normalmente democrático esta pressão sobre o poder judicial seria motivo mais que bastante para a exoneração do Governo.»

Excerto de «Os partidos o presidente e o povo», capítulo de «Filhos de Saturno», de António José Saraiva (publicado originalmente no Diário Popular de 29-8-1978

1 comentário:

  1. O vosso Pro memoria — neste caso o 280 — sempre foi um sucesso.
    Sobretudo para os muitos que se esquecem de tomar os pingos para não se esquecerem.

    Relembrar António José Saraiva em 1978 foi um prazer.
    Continua tudo como dantes, QG em Abrantes.

    Espero e desejo, com alguma angústia, a guerra civil ou uma revolução. Porquê a angústia? Sou maior de 70 anos — v.g., não sou um "jovem de 29 anos". Por doença ou maleita já não consigo correr, nem para fugir nem para matar.

    Abraço

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