«Em Portugal, como noutros países, o Estado social tem um ciclo composto de duas fases: uma de ascensão da despesa, e outra de desaceleração ou declínio. É este pára-arranca que cria a ilusão de variedade ideológica. O sistema nunca muda, mas os seus períodos de ascensão são considerados “sociais-democratas”, e os de declínio “neo-liberais”. Neste jogo, o PS conseguiu reservar-se o papel de acelerador e obrigar o PSD a desempenhar o papel de travão, isto é, de “neo-liberal”.
O PS não foi servido apenas pela sorte. Em 2004, logo que Santana Lopes declarou o fim da austeridade, o presidente Jorge Sampaio desmontou-o, reservando para os socialistas o direito de gozar no poder o crédito barato do euro. Este ano, quando o PSD e o CDS se preparavam para mostrar outra face, mais simpática, depois de quatro anos de ajustamento, foi uma manobra parlamentar que lhes demonstrou que o PS governa quando ganha, mas também quando perde eleições. Em suma, se Costa e os seus “acordos” negativos passarem os testes do presidente, lá vai o PSD ser impedido mais uma vez de fazer de social-democrata. E com esta certeza: quando voltar a sua vez, é porque não há dinheiro. Mísera sorte, estanha condição…»
Rui Ramos no Observador
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