02/08/2015
TIROU-ME AS PALAVRAS DA BOCA:«O horizonte cor de rosa»
«O novo cartaz da pré-campanha eleitoral do Partido Socialista parece inspirado na melhor estética da revolução cultural maoísta ou, indo mais atrás, no "realismo socialista" da era soviética. O cartaz retrata uma jovem com ar sonhador a puxar uma cortina que, por um lado, tapa um céu carregado de nuvens negras e, por outro, abre para um sol radioso em fundo de céu azul.
A frase inscrita neste amanhecer maravilhoso tem igual inspiração: "É Tempo de Esperança". Podia ser "o horizonte é cor de rosa" (adaptação do maoísta "o horizonte é vermelho"), mas ficou mais próximo dos "amanhãs que cantam", surripiada ao Partido Comunista. Em qualquer caso, o que lá está é todo um programa. Um passado tormentoso, em que o Partido Socialista não se revê, um futuro de felicidade, que o Partido Socialista antecipa.
Este cartaz não é só propaganda, o que já seria irónico. É o PS. Um partido que, para usar a imagem deste simbólico cartaz, passa pela tempestade dos últimos quatro anos e aparece no final sem um pingo de chuva no fato. Um partido que esteve na origem da bancarrota e passou por ela a assobiar para o ar, como se nada tivesse a ver com isso.
Um partido que assina um memorando com os credores e levou os anos seguintes a criticar muitas das medidas que ele próprio assinou. Um partido que chega às eleições de outubro insistindo que foi a reprovação do PEC 4 que nos trouxe a troika. Que era possível mudar sem austeridade. Que alimenta a ilusão que tudo estaria melhor sem cortes. Que era possível passar por esta crise sem dor. Ou seja, o Partido Socialista pretende chegar às eleições imaculado, sem qualquer vestígio de culpa nas tormentas que os portugueses foram obrigados a viver nos últimos quatro anos. Isto não é só propaganda. É política, mas não da melhor.
Se omitir o passado já é mau; enganar sobre o futuro é bem pior. É verdade que há um raio de sol a espreitar entre as nuvens negras. Daí a garantir que a partir de outubro, qualquer que seja o resultado eleitoral, o sol brilhará para todos vai uma longa distância. A mesma que separa o PS do seu passado. Infelizmente não será assim. Em Portugal, na Europa e, já agora, no mundo. O futuro continua a ser incerto e as dificuldades tremendas. Dizer o contrário e prometer o contrário é, pura e simplesmente, mentir.
O Partido Socialista bem pode tentar que a cortina que se fecha esconda também o seu passado. Mas não é possível apagar o passado. O PS e António Costa teriam andado bem melhor se tivessem resistido à tentação de tomar os portugueses por tontinhos, por puro taticismo político.»
Luís Marques no Expresso
Parece que estão (ou vão) retirar os cartazes, tantas bocas foram as nas "redes sociais".
ResponderEliminarTal como com o leão.