Outros purgatórios a caminho dos infernos.
A troika chegou a acordo com o governo grego sobre as condições do novo resgate, o parlamento grego aprovou as medidas, os bancos gregos reabriram com o dinheiro fresco do BCE, mais 86 mil milhões (36% do PIB) vão ser entornados na economia grega. A Grécia está, pois, no bom caminho. Certo? O mais provável é estar errado.
Uma semana depois, o parágrafo anterior parece ultrapassado pela ratificação do resgate pelo Bundestag e pelos outros parlamentos. Contudo, convirá não esquecer que dos 585 membros do Bundestag 454 votaram a favor, 18 abstiveram-se e 113 votaram contra, incluindo 63 deputados da coligação CDU-CSU, mais 3 do que no segundo resgate e mais 60 do que no primeiro.
Ainda assim, à primeira vista poderá parecer que se está no bom caminho, até porque o governo alemão insiste que o FMI irá participar, apesar do FMI dizer que só o fará com um haircut e governo alemão manter que o Tratado de Lisboa não autoriza o haircut (é claro que não). Talvez a coisa se resolva com uma garantia financeira da Zona Euro ao FMI.
Na frente política interna, o saco de gatos do Syriza está a romper-se e Tsipras demite-se para forçar novas eleições que tudo indica o Syriza, depurado do lunatismo mais exacerbado, irá ganhar, ainda que para formar governo terá de ser coligar de novo com a extrema-direita do Anel ou com a Nova Democracia.
Se, um grande se, tudo isso correr bem, resta o principal obstáculo ao sucesso do resgate do Estado grego: o governo grego a fazer o contrário do que tinha prometido e a duvidosa resiliência do povo grego para suportar mais 3 anos de resgate e um número indeterminado de anos de disciplina financeira. Resta também o obstáculo que é tolerância evanescente da maioria dos governos da Zona Euro pressionados pelo descontentamento crescente dos seus eleitorados.
Entretanto, as falanges domésticas de apoio ao Syriza propagam a ideia que tem sido a Alemanha quem mais lucrou com a crise grega ao financiar-se a juros baixos, em resultado da dívida alemã funcionar como um refúgio para as incertezas da Zona Euro. Felizmente, no mar dos delírios do jornalismo de causas resistem algumas ilhas profissionais, como Eva Gaspar do Negócios que desmistifica aqui essa falácia e demonstra que se alguém ganhou com a crise grega foram… os gregos, a quem foram perdoados 100 mil milhões de euros e que beneficiaram de uma redução de juros equivalente a 4,7% do PIB em 2013 e 4,4% em 2014.
Sem comentários:
Enviar um comentário